TRABALHO Notícia da edição impressa de 20/06/2014
Mundial criou 1 milhão de empregos no País
Em evento no Rio de Janeiro,
especialistas garantem que ainda é cedo para calcular o legado econômico da
Copa
A Copa do Mundo foi responsável pela geração de 1 milhão de
empregos, dos quais 710 mil permanentes, segundo balanço preliminar do governo
sobre os ganhos decorrentes da realização do Mundial de futebol no País. São
mais de 15% dos 4,8 milhões de vagas criadas durante todo o governo de Dilma
Rousseff, informou a Secretaria de Imprensa da Presidência da República, que
utilizou no cálculo os dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
A estimativa foi apresentada nesta quinta-feira, pelo
presidente da Embratur, Vicente Neto, durante o painel Impacto dos Grandes
Eventos na Economia Brasileira, no qual, junto com especialistas, fez um balanço
prévio dos benefícios gerados pela Copa. Outro ganho, apontou ele, é a previsão
de que o evento movimentará R$ 6,7 bilhões.
Neste caso, não são considerados os investimentos em
infraestrutura, que, pelo discurso do governo brasileiro, seriam realizados de
qualquer forma, independentemente da indicação dos organizadores dos jogos.
Apesar da divulgação de números favoráveis à Copa, a opinião
de especialistas presentes ao evento é de que ainda é cedo para calcular o
legado econômico do Mundial. Pedro Trengrouse, da Fundação Getulio Vargas do
Rio de Janeiro (FGV-Rio), compara os dados brasileiros aos da África do Sul,
onde estudos apontam ganho de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Relativamente
ao PIB brasileiro, 1% equivaleria a R$ 48,4 bilhões, muito acima dos R$ 6,7
bilhões, mas, em sua opinião, não é possível comparar resultados em países com
características econômicas e culturais tão distintas, onde o futebol não
mobiliza a população com a mesma intensidade. A sua expectativa é de que, no
Brasil, os ganhos serão maiores do que os conseguidos na África do Sul, que
sediou o último Mundial.
Já Lamartine da Costa, da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj), destacou que todo impacto na economia é progressivo e que, por
isso, não é possível mensurá-lo no curto prazo. “Apenas agora estão sendo
quantificados os ganhos (da Olimpíada) em Barcelona, de 1992”,
destacou.
Entretanto, no governo, a preocupação já é em prolongar os
ganhos e multiplicá-los no turismo daqui para frente, diz o presidente da
Embratur. Passado o evento, o governo iniciará um programa de incentivo a
viagens domésticas e de atração de estrangeiros ao País. Ele ressaltou a
entrada de divisas com o setor em 2013, de US$ 6,7 bilhões, de acordo com dados
do Banco Central. A principal crítica dos especialistas presentes ao painel,
entretanto, não focou no legado econômico do mundial de futebol, mas no modelo
adotado pela Fifa e, principalmente, na relação da Federação com o governo. “O
que resta é o impacto desse evento para as relações internacionais. O COI
(Comitê Olímpico Internacional) já acordou para isso. A Fifa, não sei”, disse
Costa.
Trengrouse acrescentou que a relação entre a organização do
evento e o Estado deve ser alterada para que os governos consigam desenvolver
suas agendas próprias e não as impostas pela Fifa. A opinião do especialista da
FGV é de que o governo brasileiro deveria ter aproveitado a oportunidade para
exigir a discussão de problemas crônicos do futebol brasileiro, para permitir
que o esporte impulsionasse ainda mais a economia.
Ele reclamou, por exemplo, da falta de investimentos para
que a população pudesse assistir aos jogos de uma forma diferente daquela como
assistiu a outras Copas. “Por que não se investiu em uma experiência
diferenciada para o povo brasileiro?”, questionou.
A Secretaria de Imprensa da Presidência respondeu que foi
oferecido aos brasileiros um número de ingressos para assistir os jogos nos
estádios maior do que o disponibilizado aos estrangeiros e também que não cabe
ao governo propor alterações nas condições de trabalho da Fifa.
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