PML: PSDB recebeu 42% das doações das empreiteiras da
Lava Jato. E agora, Moro?
publicado
em 30 de março de 2015 às 11:42
E agora, Sérgio Moro?
Segundo pesquisa,
PSDB recebeu 42% das doações das grandes empreiteiras da Lava Jato aos partidos
A descoberta de que o conjunto
das empreiteiras investigadas na Lava Jato responde por 40% das doações
eleitorais aos principais partidos políticos do país – PT, PMDB, PSDB – entre
2007 e 2013 é uma dessas novidades imensas à espera de providências a
altura.
Permite uma nova visão sobre as
denúncias envolvendo a Petrobrás, confirma uma distorção absurda nas
investigações e exige uma reorientação no trabalho da Justiça e do Ministério
Público.
É o caso de perguntar: e agora,
Sérgio Moro? O que vamos fazer, Teori Zavaski?
Explico.
Conforme o Estado de S.
Paulo, entre 2007 e 2013 as 21 maiores empresas da Lava Jato
repassaram R$ 571 milhões a petistas, tucanos, peemedebistas. Desse total, 77%
saíram dos cofres das cinco maiores, que estão no centro das investigações:
Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Grupo Odebrecht e OAS.
Segundo o levantamento, o Partido
dos Trabalhadores ficou com a maior parte, o que não é surpresa. As doações
ocorreram depois da reeleição de Lula. Cobrem aquele período do calendário
político no qual Dilma Rousseff conquistou o primeiro mandato e Fernando Haddad
venceu as eleições municipais de São Paulo. Mas o PSDB não ficou muito atrás.
Embolsou 42% do total. Repetindo para não haver dúvidas: conforme análise do Estado Dados,
de cada 100 reais enviados aos partidos, 42 chegaram aos cofres tucanos.
Gozado, não?
Agora dê uma olhada na relação de
beneficiários denunciados na Lava Jato e pergunte pelos tucanos. O personagem
mais ilustre, senador Sérgio Guerra, já morreu. É acusado de ter embolsado
dinheiro para inviabilizar uma CPI. Infelizmente, não está aqui para
defender-se – o que permite imaginar até onde pode chegar a largura de suas
costas.
O outro implicado é o senador
Antônio Anastasia, aliado número 1 de Aécio Neves, forte candidato a um carimbo
de “falta de provas” amigo nas próximas etapas do percurso.
Como chegaremos aos 42%? Alguém
vai investigar, vai explicar? Ninguém sabe. Nem uma pista.
Onde estão as delações premiadas,
as prisões preventivas?
Apoiado na delação premiada de
Paulo Roberto Costa, que chegou à diretoria da Petrobras com proteção do
lendário Severino Cavalcanti, do PP pernambucano, a investigação concentrou-se
no condomínio Dilma-Lula e legendas aliadas. Esbarrou no PSDB, de vez em
quando, quase sem querer, por acaso. E só.
A descoberta da fatia de 42% do
PSDB na Lava Jato pode ser mais útil do que se imagina.
Deixando de lado, por um momento,
a demagogia moralista que tenta convencer o país que todo político é ladrão
cabe reconhecer um aspecto real e relevante.
Estamos falando de um sistema no
qual todos os partidos se envolvem na busca de recursos financeiros para tocar
as campanhas. Todos. São as mesmas empresas, com os mesmos clientes, com os
mesmos doadores que se ligam às mesmas fontes.
Isso quer dizer o seguinte: ou
todos são tratados da mesma forma, conforme regra elementar da Justiça, ou
teremos, na Lava Jato de 2015, o mesmo tratamento preferencial dispensado aos
tucanos do mensalão PSDB-MG. Não dá para dizer que um recebe “propina” e o
outro ” verba de campanha,” certo?
Acho errado por princípio
criminalizar as campanhas financeiras dos partidos políticos. Por mais graves
que sejam suas distorções – e nós sabemos que podem ser imensas – elas envolvem
recursos indispensáveis ao funcionamento do regime democrático. Mesmo a Nova
República, que substituiu o regime militar, nasceu com auxílio de um caixa
clandestino formado pelos maiores empresários e banqueiros do país, na época.
Não conheço ninguém que, mesmo informado dessa situação, sentisse nostalgia da
suposta — sim, suposta e apenas suposta — moralidade do regime dos generais.
Se queremos uma democracia
emancipada do poder econômico, precisamos de novas regras – como financiamento
público, como proibição de contribuições de empresas – para isso. E temos de
ter regras transitórias para caminhar nessa direção, que não joguem fora a
criança junto com a água do banho, certo?
Mas não é isso o que tem
ocorrido. Pelo contrário. A tradição é criminalizar os indesejáveis, submetidos
a penas rigorosas, e poupar amigos e aliados, através de uma prática conhecida.
Comparece-se a AP 470 com o
mensalão PSDB-MG.Julgados pelo mesmo crime que conduziu importantes dirigentes
do Partido dos Trabalhadores a prisão, os acusados da versão tucana sequer
foram julgados – até hoje. Muitos já tiveram a pena prescrita. Não faltam
acusados que dormem o sono dos justos com a certeza de que jamais correrão o
risco de qualquer condenação. Os acusados tucanos que forem condenados – se é
que isso vai acontecer um dia — terão direito a um julgamento com segundo grau
de jurisdição, que foi negado aos principais réus do PT. A última notícia do
caso é que a juíza que presidiu o julgamento em primeira instancia aposentou-se
antes de terminar o serviço e ninguém foi nomeado para seu lugar. Se esse filme
parece velho, lembre das denúncias que envolvem as obras do metrô paulista.
Muito instrutivo, não?
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