Sindicatos vinculam apoio a
Dilma ao fim do ajuste fiscal
A presidente Dilma
Rousseff terá de fazer uma escolha entre o apoio das centrais sindicais,
considerado crucial pelo Planalto para enfrentar o processo de impeachment, e a
manutenção da política econômica do ajuste fiscal. Lideranças das três maiores
centrais do País que, juntas, representam 4,4 mil sindicatos, afirmaram ao
jornal O Estado de S.Paulo que, depois de "segurar as pontas" no
apoio ao governo em 2015, apesar das medidas de restrições aos programas
sociais, a defesa estará condicionada a mudanças na política econômica.
"O País não
suporta mais esse receituário econômico, de ajuste. O desemprego subiu e deve
continuar subindo, com inflação acima de 10% dificultando todas as negociações
salariais. É claro que a Previdência precisa ser discutida, mas não é um quadro
urgente. Espero que o governo não cometa o erro fatal de defender reformas
previdenciárias e trabalhistas num cenário tão difícil como esse começo de
2016", disse o secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e
ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre.
Braço sindical do PT,
a CUT liderou, ao lado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
todas as manifestações populares de apoio a Dilma. Na manifestação de 16 de
dezembro contra o impeachment, diz ter levado quase 100 mil pessoas às ruas,
número que superou o ato anti-Dilma realizado dias antes.
Em todos os protestos,
os movimentos sociais foram contrários ao impeachment, mas críticos à política
econômica do segundo mandato, encarnada na figura do então ministro da Fazenda,
Joaquim Levy. Os ataques ao ajuste fiscal foram engrossados pelo ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
A recente troca de
Levy pelo atual ministro, Nelson Barbosa, empolgou os sindicalistas. Mas as
primeiras declarações de Barbosa desagradaram. "O Barbosa sempre teve uma
visão mais positiva para a economia, pró-investimentos e crédito. Estranhei a
defesa dele das reformas previdenciárias e trabalhistas numa hora dessas. Ele
quis agradar o mercado, mas isso é tiro no pé", disse o presidente da
Força Sindical, Miguel Torres, que também comanda o Sindicato dos Metalúrgicos
de São Paulo.
Torres faz parte da
direção nacional do Solidariedade, partido comandado pelo seu antecessor na
central, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD). Paulinho
defende o impeachment, mas a Força declarou ser contrária ao afastamento da
presidente.
"Se ela cair, a
confusão no País será ainda maior e isso será péssimo para os trabalhadores.
Agora está muito ruim, mas pode ficar pior. O programa do PMDB é ainda mais
pró-ajuste fiscal, pior do que o PSDB pelo jeito. Mas o governo precisa ajudar
também. Precisamos retomar urgentemente o crescimento porque o Brasil está
parando, com inflação em dois dígitos e muita revolta com Dilma", disse o
líder da Força.
'Risco'
Pela União Geral dos
Trabalhadores (UGT), o presidente Ricardo Patah, que faz parte da direção
nacional do PSD, disse que o governo "corre riscos" se efetivamente
apresentar reformas como o estabelecimento de idade mínima para aposentadoria
pelo INSS, além de reformas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ao
mesmo tempo em que o processo de impeachment estiver em votação pela Câmara e
as contas da campanha presidencial sob análise do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"O momento é
delicado. Sou totalmente contrário ao impeachment, defendo o governo. Mas as
energias do País estão concentradas nesse debate. O governo precisa concentrar
esforços na retomada do crescimento, isso ajudará todo mundo", disse
Patah. Segundo ele, o governo pode iniciar o debate da Previdência pelo lado
dos servidores federais. "Por que não discutir a aposentadoria dos
servidores? Precisa ser sempre reforma no INSS, onde a maior parte dos
aposentados recebe um salário mínimo?"
Negociação
Para o presidente da
Federação dos Comerciários do Estado de São Paulo (Fecomerciários) e da UGT-SP,
Luiz Carlos Motta, o governo precisa buscar os sindicalistas para
"atravessar" 2016. "Ela precisa de nosso apoio e não dá para
defender se as propostas forem de mais aperto justamente na base da pirâmide.
Ela só vai se sustentar se não mexer nos direitos trabalhistas", disse
ele.
Entre as reformas
defendidas pelo governo está uma que conta com apoio da CUT, que é a livre
negociação entre os trabalhadores e sua empresa, opção que não faz parte da
CLT. Mas mesmo a CUT entende que a medida só pode sair do papel após discussão
com as demais centrais. "O governo precisa sentar e conversar com todos.
Dilma precisa construir consensos, não anunciar medidas sem negociação",
disse Nobre. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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