XI
ELAT, EM MEDELLIN (Colômbia)
Oswaldo
Miqueluzzi discorre sobre o recado popular que adveio das ruas: “AS MANIFESTAÇÕES
DE JUNHO DE 2013 NO BRASIL E O MUNDO DO TRABALHO”.
CONGRESSO INTERNACIONAL DA ALAL NA COLÔMBIA, MEDELLIN
SUCESSO RENOVADO: Terminou em 08.11.2013 o XI ELAT –
Encontro Latino-Americano de Advogados Laboralistas realizado na Colômbia,
Medellin, com a participação de representações de diversos países, não só da
América-Latina, mas também dos EUA e União Européia.
O evento teve cunho social e multidiciplinário com a
participação de advogados, magistrados do trabalho, professores, dirigentes
sindicais, discutindo o Mundo do Trabalho frente à Crise Econômica e a Carta
Sócio Laboral da ALAL que objetiva a construção de uma sociedade planetária de
inclusão social, num mundo novo sem fronteiras e de direitos recíprocos
assegurados através de uma legislação supra-nacional tutelando patamares
civilizatórios de direitos que assegurem a efetividade da dignidade humana.
Leia mais.
AS MANIFESTAÇÕES
DE JUNHO DE 2013 NO BRASIL
E O MUNDO DO
TRABALHO
Oswaldo Miqueluzzi*
Se podes olhar, vê.
Se podes ver, repara.
Pode-se olhar e não ver,
pode-se ver e não reparar.
Introdução
Primavera árabe, Ocuppy Wall Street, nos EUA,
indignados no sul da Europa e na Grécia, movimento "Yo soy 132",
contra a fraude eleitoral no México, movimento estudantil do Chile, protestos
na Colômbia, passeata de indígenas na Bolívia, manifestações na Turquia, protestos
no Brasil. O mundo vive uma onda de manifestações.
Como disse Boaventura de Souza Santos, “estamos num
momento de fortes movimentos sociais em todo o mundo, com protestos, muita
indignação, muita revolta”[2]. Para
ele, trata-se de movimentos revolucionários, comparáveis àqueles vividos em
1968, 1917, 1848, enquanto Žižek compara o momento com os anos de 1968, 1989 e
2005.
No Brasil, mais de dois milhões de pessoas foram às
ruas nas manifestações de junho. Embora aqui nos ocupemos primordialmente dessas
manifestações, elas não estão desvinculadas das outras que vêm ocorrendo nos
últimos anos em outros países.
Dando um sentido comum às revoltas e às revoluções
que se generalizam, Plínio de Arruda Sampaio Júnior afirma que “as Jornadas de
Junho fazem parte do mesmo processo de revoltas e revoluções populares que
colocam em xeque as bases sociais e as políticas da ordem global em diferentes
regiões do mundo”[3].
Iniciadas pelo Movimento pelo Passe Livre – MPL, em
decorrência do aumento das tarifas de ônibus, as manifestações no Brasil representaram,
segundo os diversos analistas aqui mencionados, uma demanda por mais e melhores
serviços públicos, uma crítica às condições da cidade, uma retomada de espírito
cívico e democrático, uma consequência da situação econômica, uma forma de
participação nas decisões ou de externar a aversão ao sistema político e ao
governo, e até, na perspectiva do fundamentalismo neoliberal, uma crítica em
relação ao “custo Brasil”.
Os vários motivos que levaram a população às ruas, os
grupos de pessoas que participaram das manifestações, o que as motivou e como
elas operaram, servem como base da presente exposição.
O que se pretende destacar aqui é a quase completa
ausência das questões relativas ao mundo do trabalho nas manifestações
ocorridas em junho de 2013, no Brasil, consequência, talvez, do papel central
exercido pela mídia, ponto que também é salientando, buscando-se apresentar as
diversas visões sobre o movimento, cujos enigmas ainda estão por serem
decifrados.
1. Os vários
motivos que levaram a população às ruas
Múltiplos foram os motivos das manifestações, muitos deles
contraditórios entre si.
Para Silvia Viana, foi o duplo risco assumido pelos
rapazes e moças do MPL (Movimento pelo Passe Livre) de “atentar contra a
‘segurança pública’ e contra sua própria segurança pessoal”, e de enfrentar,
além dos carros, “a mesma polícia que mata ordinariamente os jovens que,
nascidos e criados em berço não pacífico, devem ser ‘pacificados’ à bala – e
não a de borracha”, que deu “o pontapé para o deslocamento do campo político
que, até agora, parecia invulnerável à política”[4].
1.1
A questão das cidades
A questão das cidades como uma das principais
razões das manifestações é destacada por Erminia Maricato, para quem, “no
Brasil é impossível dissociar as principais razões, objetivas e subjetivas desses
protestos, da condição das cidades”[5].
Segundo ela, “é com a condição dos transportes que
as cidades acabam cobrando a maior dose de sacrifícios por parte de seus
moradores. E embora a piora de mobilidade seja geral – isto é, atinge a todos
–, é das camadas de rendas mais baixas que ela vai cobrar o maior preço em
imobilidade”[6].
No mesmo sentido parece ser a avaliação do sociólogo Francisco de
Oliveira, para quem é o forte crescimento do Brasil, que está nas cidades, nos
últimos vinte anos, o causador do atual “período de extrema turbulência”. Para
ele, é o crescimento econômico atual “que cria a turbulência”, e não o
contrário, pois “o crescimento exalta forças que não existiam”[7].
1.2
Variedades de motivações
A existência de espaço para as motivações mais
diversas, “desde o prazer da festa até a expectativa de quem aspira a alguma
mudança sem saber como se daria e com qual profundidade. Desde quem se
aproveita da confusão para quebrar vidraças e invadir lojas até os netos e
bisnetos dos burguesotes das marchas da família, com Deus e pela liberdade, que
invocavam o golpe em 1964”, foi apontada por Mino Carta[8].
Ruy
Braga assinala “uma pesquisa nacional realizada pelo Ibope durante as passeatas
do mês de junho de 2013”, na qual “os problemas mais citados pelos
manifestantes eram a saúde (78%), a segurança pública (55%) e a educação
(52%)”, sendo que “77% dos entrevistados mencionaram a melhoria do transporte
público como a principal razão dos protestos”[9].
1.3
Sentimento de insatisfação
Um “sentimento fluido de desconforto e
descontentamento que sustenta e une demandas particulares” foi constatado por Slavoj
Žižek,
ao analisar a onda de protestos pelo planeta, aduzindo que “o desfecho dessa
situação está em aberto, e será resultado do processo político atualmente em
curso”[10].
A “insatisfação latente na população com as
péssimas condições de vida” foi indicada como razão para os movimentos por Plínio
de Arruda Sampaio Júnior.
Os movimentos foram “uma resposta reativa das
massas aos desmandos e arbitrariedades dos governantes”, diz ele[11].
Para revoltar-se no Brasil, diz Adriano Benayon, as
pessoas “nem precisam estar bem informadas. Basta sentir os sofrimentos
decorrentes de problemas que continuam agravando-se: 1) transporte público
insuportável e, além disso, nas grandes cidades, transporte particular
inviabilizado pelo excesso de veículos; 2) acesso difícil ou inexistente
a serviços públicos de saúde e de educação, de alguma qualidade, além de,
no âmbito privado, preços absurdos sem qualidade correspondente; 3)
salários baixos; 4) preços elevados, em mercados dominados por empresas e
bancos concentradores; 5) impostos e taxas numerosos e custosos”[12].
Embora
admita “que a realidade socioeconômica e política do Brasil de hoje apresente
razões diversas de insatisfação”[13], Fábio Wanderly Reis
entende ser “problemático o empenho de ligar com clareza as manifestações com a
insatisfação que supostamente a teria produzido”, afirmando ser “difícil
encontrar indícios de insatisfação que sugerissem sequer de longe a iminência
ou a possibilidade de explosões populares”. Segundo ele, “é quando a
desigualdade diminui que surgem as comparações e a percepção subjetiva
da injustiça da desigualdade – e o ânimo de lutar contra ela” [14].
1.4
Crítica à representação política e às instituições
No pensar de Marcos Coimbra, “no conteúdo, o
elemento central da ‘ideologia das ruas’ foi a crítica à representação política
e às instituições, particularmente os partidos políticos. Os manifestantes
gritaram país afora não se sentirem representados por ninguém, foram à rua para
denunciar os ‘políticos’ e ‘fazer política com as próprias mãos’. As vagas
perorações em favor de ‘mais verbas para a educação e a saúde’ ou contra os
‘gastos exagerados na Copa do Mundo’ não passaram de pretextos para externar
sua aversão ao sistema político e ao governo”[15].
Para
Leonardo Sakamoto, a revolta dos jovens, “precariamente informados”, “não foi
necessariamente contra o sistema partidário, mas sim contra instituições
tradicionais que representam a autoridade como um todo”. Os jovens, diz ele,
“compraram um discurso fácil, que cabia em sua indignação”, exclamando “Que se
vão todos”, “Não precisamos de partidos para resolver nossos problemas”,
“Políticos são um câncer”, desconhecendo a história recente do Brasil e
“colocando todo mundo no mesmo balaio de gatos”. Segundo ele, os jovens “querem
sentir que poderão ser protagonistas de seu país e de sua vida. E enxergam a
classe política e as instituições tradicionais como parte do problema” [16].
1.5
Temas produzidos pelos monopólios de comunicação
Para Lincoln Secco, os temas das manifestações
foram “produzidos pelos monopólios de comunicação”[17].
Com ele concorda Plínio de Arruda Sampaio Júnior, ao
afirmar que “a grande mídia deu alarde à presença de consignas nacionalistas – ‘O
gigante acordou’, ‘Verás que o filho seu não foge à luta’ –; moralistas – ‘Contra
a Corrupção’, ‘Contra a PEC-37’ –; e até mesmo autoritárias – ‘Contra os
Partidos’ e ‘Contra a Violência’”[18].
Além disso, acrescenta, “em várias cidades, as
organizações empresariais aproveitaram a confusão para infiltrar pessoas contratadas
com cartazes impressos que destoavam completamente do que vinha sendo
reivindicado – ‘Menos Impostos’ e ‘Imposto Zero’”[19].
1.6
Retomada do espírito cívico e democrático dos jovens
Na avaliação de Luiz Carlos Bresser Pereira, as
manifestações foram “um momento de retomada do espírito cívico e democrático de
jovens que pareciam imersos no cinismo consumista, mas tiveram como alvo
principal os políticos, que são uma condição para a existência da democracia”[20].
1.7
Busca por direitos sociais
Houve quem viu nas manifestações a busca por
direitos sociais.
De acordo com Boaventura de Souza Santos, “o
movimento do Brasil tem uma genealogia, uma história, semelhante ao movimento
dos indignados de Portugal, da Espanha e da Grécia. São jovens democracias onde
houve uma expectativa de uma social-democracia, uma democracia com fortes
direitos sociais, de educação, saúde, transporte. Havia uma expectativa de uma
sociedade mais inclusiva. Essa era a promessa. A democracia não é simplesmente
mero voto e a representação política, mas se traduz em direitos sociais e
econômicos. Portanto nesses casos [Brasil e indignados], os movimentos surgem
da ruína dessas aspirações”[21].
Jorge Luiz Souto Maior sustenta que as
manifestações expressaram o desejo da população de “mais serviços públicos e de
qualidade”, de “um Estado social”, pautado “pelo imperativo de uma ordem
jurídica que seja apta a resolver a nossa grave questão social, notadamente a
desigualdade social”[22].
Paulo
Schmidt, presidente da Anamatra – Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho, ressalta que, “a despeito do caráter ‘difuso’ das
manifestações atuais, as bandeiras que se veem eriçadas bem demonstram o seu
pendor para os direitos sociais, previstos na Constituição Federal”, buscando
que estes direitos constitucionais deixem de ser direito de papel e sejam
efetivamente incorporados ao patrimônio jurídico dos cidadãos”[23].
1.8 Imitação das
irrupções anteriores
De
acordo com Fábio Wanderley Reis as manifestações em suas dimensões especiais foram, “em boa medida fúteis, a mera
imitação das irrupções anteriores (e simultâneas) em outros países”, iniciadas
“com êxito, pelo MPL”, e contaram “com estímulos adicionais na excitação
produzida pelo começo coincidente da Copa das Confederações e na dureza da
repressão policial inicial, depois amplamente substituída, diante da leitura ‘democrática’
dos eventos, por leniência e omissão”[24].
1.9 Custo Brasil
Para os que defendem a fundamentalismo neoliberal, os responsáveis pelo grande descontentamento
manifesto nas ruas foram “o elevado custo do trabalho, a alta carga tributária e a
corrupção”[25].
2. Quem participou
Participaram
das manifestações, além daqueles que iniciaram o movimento – MPL – Movimento
pelo Passe Livre, anarquistas, punks, jovens de classe média e da periferia,
profissionais, entidades estudantis, movimentos sociais e populares, movimentos
culturais e de protesto e luta de todos os tipos e das redes.
No
início do movimento, Arnaldo Jabor, comentarista da Rede Globo, chegou a afirmar
o seguinte:
“Não
pode ser por causa de 20 centavos! A grande maioria dos manifestantes são
filhos da classe média, isso é visível! Ali não havia pobres que precisassem
daqueles vinténs, não!”[26].
Há um consenso de que a maioria dos aglutinadores e
participantes das manifestações era “formada por jovens”, que “se consideram
‘sem voz pública’, isto é, sem canais para se expressar e ter sua voz ouvida.
Ou melhor, a voz deles não se expressa nem é ouvida publicamente”[27].
Ruy Braga transcreve pesquisa realizada na passeata
de 20 de junho de 2013 no Rio de Janeiro, na qual se mostrou “que 70,4% dos
manifestantes estavam empregados, 34,3% recebiam até um salário-mínimo e 30,3%
ganhavam entre dois e três salários-mínimos. A idade média era de 28 anos, ou
seja, a faixa etária dos que entraram no mercado de trabalho nos últimos dez
anos”, fazendo a seguinte análise:
Se os grupos pauperizados
que dependem do programa Bolsa Família e os setores organizados da classe
trabalhadora que em anos recentes conquistaram aumentos salariais acima da
inflação ainda não entraram na cena política, o “precariado” – a massa formada
por trabalhadores desqualificados e semiqualificados que entram e saem
rapidamente do mercado de trabalho, por jovens à procura do primeiro emprego,
por trabalhadores recém-saídos da informalidade e por trabalhadores
sub-remunerados – está nas ruas manifestando sua insatisfação com o atual
modelo de desenvolvimento[28].
Plínio de Arruda Sampaio Júnior observa a
heterogeneidade da composição social da massa que saiu às ruas, afirmando que
“da classe média remediada para baixo, praticamente todos os segmentos da
sociedade aproveitaram a oportunidade para expressar seu descontentamento com
o status quo, inclusive com a presença – por vezes expressiva – de
franjas de trabalhadores pobres não organizados em sindicatos e da massa
proletária e lumpemproletária que mora em favela”[29].
A pluralidade
de tendências também foi assinalada por André Singer, sendo “algumas delas
tensamente contrapostas entre si”. Para ele, a fragmentação do movimente
evidenciou-se na “famosa quinta-feira em que o Itamaraty foi atacado”, quando, “de
suposta alegria pela redução das passagens, o próprio Movimento Passe Livre foi
expulso da av. Paulista”, mostrando que “não se tratava de um movimento, mas de
vários”[30].
De
acordo com Marcelo Coelho[31], não há dúvida de que “as
manifestações de junho foram ‘multiclassistas’”, demonstrando dessa forma:
Havia a ultra-esquerda. Havia uma classe
média que, decepcionada com os seus tucanos e com os seus Demóstenes, resolveu
fazer oposição com as próprias mãos. Havia uma massa estudantil que já não é
tão elitizada, graças as cotas e ao ProUni.
Havia uma juventude de periferia para quem os
males do Estado não se localizam em Dilma ou Renan, mas numa PM que prende,
achaca e barbariza. Havia os descontentes com uma PM que não prende e com uma
Justiça que prende menos ainda.
Marcelo Coelho anota que, “no meio desses dois
extremos, a maioria só se mobilizou de fato quando entrou em cena o direito
democrático de protestar sem ser espancado pela polícia”[32].
Para Leonardo Sakamoto, “apesar de as manifestações
terem uma clara origem de esquerda”, “grupos conservadores se organizaram na
internet para pegar carona nos atos”, e “alguns até atacaram – de forma verbal
e física – militantes de partidos e sindicalistas presentes no ato”[33].
Ressaltando que esse grupo não era “uma massa
fascista e uniforme”, Sakamoto afirma que “havia, sim, um pessoal da
ultradireita, que enxerga comunismo em ovo e estava babando de raiva, louco
para derrubar um governo. Que tem saudades de 1964 e conta com fotos de velhos
generais de cueca na parte do quarto”[34].
Diz ele, ainda, que os jovens indignados “foram
preparados, ao longo do tempo, pela família, pela escola, pela Igreja e pela
mídia para tratarem o mundo de forma conservadora, sem muita reflexão, filhos
de pais que viveram o auge do neoliberalismo, tem gente simplesmente com muita
raiva de tudo e botando isso para fora”[35].
Para
Marcos Coimbra, “os defensores mais entusiastas das passeatas foram os antipetistas
radicais. Esses se sentiram em íntima comunhão com os participantes e torceram
para as manifestações escalarem a ponto de enfraquecer o governo e prejudicar
as chances de reeleição de Dilma Rousseff”, acrescentando o seguinte:
Para dizer o óbvio, quem deu o sentido das
manifestações foi a classe média antipetista, predominantemente de direita. Nem
sempre, nem todos os participantes, mas em seu núcleo característico. Ou seja:
embora tenham participado do movimento desde punks neonazistas até adolescentes
apenas curiosos (e mesmo gente genuinamente progressista), seu rosto é nítido[36].
Acrescenta-se
haver um consenso quanto à importância do recurso à tecnologia das redes
sociais e dos telefones celulares na mobilização das pessoas para os protestos
no Brasil, que teve seu auge no dia 20 de junho, da mesma forma que ocorreu com
o Occupy Wall Street nos Estados
Unidos, na chamada Primavera Árabe, com os “indignados” na Espanha e na
ocupação da praça Taksim em Istambul.
Lincoln
Secco lembra, porém, que “as redes sociais foram importantes, mas quem fornece
o conteúdo do ‘pensamento político’ é o capital monopolista investido nos meios
de comunicação”[37].
3. A grande e velha mídia
Jorge
Luiz Souto Maior diz ser evidente ”que o movimento cresceu por uma tentativa de
guinada a temas desprovidos de conteúdo, incentivados pela grande mídia, para
desarticular o discurso de esquerda e, por tabela, para abalar a força do
governo federal, retirando, inclusive, o foco das administrações municipal e
estadual”[38].
Nas palavras de Laurindo Leal Filho, “a mídia
acabou tendo papel central no desenrolar das manifestações de rua ocorridas em
todo o país”[39].
Destacando
que a velha mídia detém o monopólio do debate público, Venício A. de Lima, fez
a seguinte análise:
A primeira reação foi de condenação pura e
simples. As manifestações deveriam ser reprimidas com rigor ainda maior. À
medida, no entanto, que o fenômeno se alastrou, a velha mídia alterou
radicalmente sua avaliação inicial. Passou então a cobrir em tempo real os
acontecimentos, como se fosse apenas uma observadora imparcial, que nada
tivesse a ver com os fatos que desencadearam todo o processo. O que começou com
veemente condenação transformou-se, da noite para o dia, não só em tentativa de
cooptação, mas também de instigar e pautar as manifestações, introduzindo
bandeiras aparentemente alheias à motivação original dos manifestantes[40].
No
mesmo sentido é a avaliação de Cynara Menezes, para quem no início a mídia
“condenou os protestos e chamou seus participantes de ‘vândalos’”, embarcando
“depois em uma ‘onda cívica’ com o claro intuito de desestabilizar o governo
federal”[41].
Laurindo Leal Filho[42]
não diverge quanto à mudança de postura da mídia, fazendo as seguintes observações:
a) o “Jornal Nacional”, da Rede Globo, noticiário
mais assistido no Brasil, impôs cortes à entrevista de Mayara Vivian, uma das
integrantes do Movimento Passe Livre, gravada no dia 14 de junho. Segundo ele,
“a parte do depoimento em que ela diz defender a reforma agrária, a reforma política
e o fim do latifúndio no Brasil não foi ao ar”;
b) a apresentadora Ana Maria Braga, também da Rede
Globo, em programa matinal diário, chegou a “ensinar, como se fosse mais uma
receita de bolo, como as mães deveriam orientar os filhos na confecção de
cartazes a serem exibidos nas manifestações seguintes”;
c) “entusiastas das manifestações ‘pacíficas’, as
emissoras, no entanto, não se cansavam de mostrar atos de vandalismo, sem nunca
tentar descobrir de onde eles partiam e com que intenções. O importante era o
espetáculo das chamas e da destruição, capaz de conquistar alguns pontos a mais
de audiência”;
d) Marcelo Rezende, da rede de televisão da Igreja
Universal, “iniciou uma campanha cívica tentando incluir como bandeira do
movimento o repúdio às copas futebolísticas, cujos direitos de transmissão
pertencem à Globo”.
Para
Lincoln Secco, “acompanhando seu mercado, a direita midiática se viu forçada a
apoiar os manifestantes – mas com sua própria pauta”[43].
Em nossa história política recente, lembra Venício
A. de Lima, a mídia vem se autoatribuindo “o papel de formadora e,
simultaneamente, de expressão da vontade das ruas, vale dizer, da ‘opinião
pública’”. Segundo ele, a velha mídia identificou nas manifestações “a
oportunidade de disfarçar o seu papel histórico de bloqueadora do acesso
público às vozes – não só de jovens, mas da imensa maioria da população
brasileira. Mais do que isso, identificou também uma oportunidade de
‘desconstruir’ as inegáveis conquistas sociais dos últimos anos em relação ao
combate à desigualdade, à miséria e à pobreza”[44].
Ressaltando que muitos olharam para as
manifestações na perspectiva das eleições de 2014, para Silvio Caccia Bava, a
mídia conservadora tentou “orientar os movimentos sociais para a luta contra a
corrupção num sentido genérico e contra o governo Dilma”, enquanto os partidos
de oposição identificaram “uma oportunidade inesperada de atacar o PT e o
governo Dilma”[45].
Cristiano Navarro, Luís Brasilino e Renato Godoy
assinalam que a mudança de rumo das manifestações aconteceu quando os maiores
veículos de comunicação começaram a apoiar os protestos. Segundo eles, “foram
surgindo manifestações contra a presidente Dilma Rousseff, contra o aborto e
pela redução da maioridade penal, e cresceu a hostilidade contra organizações
de esquerda nos atos”[46].
Também
para Plínio de Arruda
Sampaio Júnior, “a
grande mídia assumiu integralmente o papel de partido da ordem”, em
decorrência do “vácuo de liderança”, acrescentando o seguinte:
Sem condições de se opor às hordas de jovens
irados, as redes de televisão e a grande imprensa procuraram disputar a direção
das manifestações e neutralizar seu caráter subversivo. A principal preocupação
foi barrar a presença das organizações de esquerda nas passeatas e garantir à
própria mídia o monopólio da direção dos protestos. A fim de diluir o
componente de classe, bem visível nos primeiros atos, os ventríloquos da ordem
fizeram de tudo para transformar a revolta popular numa grande festa cívica,
atraindo a classe média e a direita aos atos.
Com o objetivo de jogar os jovens uns contra
os outros, as bandeiras vermelhas foram veementemente condenadas e os
manifestantes foram divididos entre “pacíficos” e “violentos”, “ativistas do
bem” e “vândalos do mal”. Em sintonia com a tradição autoritária brasileira, o
enaltecimento da bandeira branca – da paz social – e a verde amarela – da ordem
e progresso – como as únicas legítimas foi uma tentativa de canalizar a
revolta popular para reivindicações moralistas, nacionalistas e institucionais[47].
De
acordo com Marilena Chauí, ao desprezar a reforma política e recusar a
legitimidade dos partidos políticos, “apesar do uso das redes sociais e da
crítica aos meios de comunicação, a maioria dos manifestantes aderiu à mensagem
ideológica difundida anos a fio pelos meios de comunicação de que os partidos
são corruptos por essência. Como se sabe, essa posição dos meios de comunicação
tem a finalidade de lhes conferir o monopólio das funções do espaço público,
como se não fossem empresas capitalistas movidas por interesses privados”[48].
Francisco
de Oliveira assinala que “a imprensa tem um papel horroroso: o que for
conformismo, ela exalta; o que for rebeldia, ela condena. Daí que o viés
conservador no olhar sobre essas manifestações é a tônica”[49].
O
alerta de Luiz Gonzaga Belluzzo é de todo procedente, ao assinalar que o que
“estamos assistindo hoje, desgraçadamente, no mundo inteiro e acho que no
Brasil com mais intensidade, é um processo de obscurecimento, e nesse
particular tem enorme importância o que nós queremos dos meios de comunicação
de massa. Hoje em dia você tem um grande debate travado em torno da liberdade
de expressão. A mídia, a grande mídia, sob a consigna da liberdade de
expressão, trata de impedir que se desenvolva o verdadeiro debate sobre o
Brasil ou sobre os temas que afligem a humanidade. Contra esse controle, temos
de lutar pela diversidade. Promover a diversidade é uma obrigação das políticas
públicas: não deixar que o poder a informação, concentrado em poucas empresas,
se transforme em censura da opinião alheia. Porque a internet ainda é uma caixa
de ressonância da grande imprensa: os blogs e quejandos, em sua maioria,
reproduzem o que a grande imprensa diz, na forma e no conteúdo, porque estão
com a consciência crítica danificada”[50].
4. A ausência do mundo do
trabalho nas manifestações
Em
sã consciência, ou abertamente, ninguém se acha no direito de pautar o
movimento e ou de dizer contra ou a favor do quê se devia ou se deve protestar.
Isso,
porém, não impediu Arnaldo Jabor de dizer em um comentário nas rádios “que os
estudantes deveriam protestar contra o mensalão e não contra o aumento no
bilhete dos ônibus”, ou que o comandante-geral da PM de São Paulo, Benedito
Roberto Meira, sugerisse ao Movimento Passe Livre a “inclusão na pauta de
reivindicações do pedido de prisão aos condenados do Mensalão”[51].
Ainda
que alguns autores tenham visto nas manifestações a busca por direitos sociais,
chama a atenção a quase completa ausência nas manifestações das questões
relativas ao mundo do trabalho, como se o trabalho não mais constituísse a
centralidade do ser humano.
Com
efeito, ainda que ninguém
tenha saído “gritando slogans em defesa do sacrossanto tripé econômico:
autonomia do Banco Central, superavit primário e controle da inflação”[52],
a não ser
algumas vozes, patrocinadas por organizações empresariais, reclamando do “elevado custo do trabalho”, o tema trabalho não
constou da pauta das movimentações.
Se, como afirmou Plínio de Arruda Sampaio Júnior[53], “a avassaladora maioria
dos manifestantes portou consignas claramente radicais e anticapitalistas,
com evidente caráter democrático e anti-imperialista – ‘Passe Livre’, ‘Educação
pública não mercantil’, ‘Saúde não é mercadoria’, ‘Moradia: Direito de
‘todos’’, ‘Fora Fifa’, ‘Contra a privatização do Maracanã’, ‘Fora Eike’, ‘Não
às remoções’, ‘Fora Rede Globo’, ‘Da Copa eu abro mão, não da saúde e da
educação’, ‘A polícia que reprime na avenida é a mesma que mata na favela’,
‘Contra a homofobia’”, não se vê, nas assinaladas bandeiras anticapitalistas,
questionamentos ou reivindicações relativas ao mundo do trabalho.
Por
isso, Jorge Luiz Souto Maior chamou a atenção para “uma discussão mais
concreta, e politizada, da necessidade do Estado em coibir a sonegação”, e mais
especificamente para a necessidade de se “desenvolver senso crítico à
transmissão vertical e horizontal da produção das grandes empresas para
pequenas empresas, pois isso dificulta a responsabilização daquelas com relação
às obrigações sociais, uma discussão que atrai a compreensão em torno da
necessidade do fim da terceirização, que implica, além disso, segregação,
invisibilidade, precarização e alto custo social com benefícios
previdenciários, decorrentes da insegurança no trabalho”[54].
Ainda
em relação ao mundo do trabalho, Souto Maior denuncia “os crimes contra a ordem
econômica, advindo especialmente da prática de falências fraudulentas, seguidas
da ‘limpeza’ dos bens do empreendimento, deixando em situação de penúria os
trabalhadores, da constituição de empresas com capital estrangeiro, que se
instauram no Brasil, exploram o trabalho dos empregados e depois somem sem
deixar vestígios”, bem com a “constituição de empresas descapitalizadas ou cujo
capital está em paraísos fiscais, atuando no mercado sem conferir garantias
reais para efetivação das obrigações sociais, também em detrimento da
concorrência”[55].
As
palavras do presidente da Anamatra – Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho, Paulo Schmidt, publicadas no jornal Folha de S. Paulo, também
demonstram a ausência da pauta trabalhista nas manifestações.
Para
suprir a omissão, conclamou o Congresso “à definitiva aprovação da proposta
legislativa que prevê a desapropriação de terra onde houver exploração do
trabalho escravo”, defendendo “o fim do fator previdenciário e da contribuição
injusta dos aposentados” e repudiando “as políticas públicas de sucateamento da
previdência pública”, bem como “as iniciativas legislativas tendentes à
precarizar o trabalho e a esmaecer os direitos sociais constitucionais”[56].
Tais
temas restaram ausentes nas manifestações, assim como “o Simples Trabalhista,
danoso aos trabalhadores”, que foi rechaçado pelo presidente da ANAMATRA.
A “definitiva
regulamentação dos tantos direitos sociais que a Constituição Federal de 1988
consagrou e que há 25 anos estão relegados ao esquecimento institucional: o
direito à proteção contra a dispensa arbitrária ou sem justa causa, as
garantias sociais no trabalho penoso, a proteção contra a automação, o direito
de greve no serviço público e a participação do trabalhador na gestão da
empresa, entre tantos outros”, também foi lembrada por Paulo Schmidt[57] e não constou da pauta das
manifestações.
Obviamente,
esta não era uma pauta que interessava às empresas, nas quais estão incluídas
aquelas dos meios de comunicação.
E,
ainda que esta pauta não tenhm constado dos manifestos, o articulista Fernando
Rodrigues, do jornal Folha de S. Paulo, destacou que “os indignados brasileiros
parecem olhar (pelo menos, a maioria) para o Estado como uma grande teta na
qual todos podem mamar de maneira eterna – e como se os recursos públicos
fossem infinitos e brotassem por geração espontânea”, fazendo as seguintes
considerações[58]:
É impossível não simpatizar
com as pessoas que foram às ruas protestar e reclamar do estado geral do país.
(...)
A imensa maioria das
reivindicações tem um embocadura quase única: aumentar a presença do Estado na
sociedade.
Passe livre para todos no
transporte público. Hospitais “padrão FIFA”. Educação “padrão FIFA”. Redução no
preço ou eliminação dos pedágios. E por aí vai. Em resumo: “Ei, governo, me dá
um dinheiro aí”.
O
sociólogo Francisco de Oliveira sustenta que “a questão operária tem a
capacidade de transformar o Brasil”, mas lamenta que o movimento operário
esteja “acomodando” e, “de certa forma, está matando a rebeldia que é
intrínseca a esse movimento”[59].
Embora
possa estar correto o diagnóstico de Marcelo Coelho, para quem, se “pouco se
falou contra desemprego ou carestia –, isso talvez seja consequência dos
próprios ganhos sociais acumulados na última década”[60], a omissão dos temas
relativos ao mundo do trabalho pode ter outros significados.
A
nosso ver, as manifestações parecem confirmar que “hoje, a classe operária não é mais o sujeito revolucionário
‘predestinado’, as lutas emancipadoras contemporâneas são plurais, sem um
agente específico que reclame um lugar privilegiado”
[61],
assim como o afirmado por José Carlos de Assis, de que “agora é uma luta de
classes mais difusa, na qual a cidadania, não as representações sindicais, tem
papel decisivo”[62],
ou, como dito por Negri, “a luta passou do nível de briga entre trabalho e
capital por causa do salário para a briga entre a multidão e o Estado por causa
da renda do cidadão”[63].
Os
movimentos aparentam dar razão a Žižek, quando afirma que hoje “as massas
desorganizadas do capitalismo global não se dividem mais em classes à maneira
marxista clássica, e embora a tarefa ainda seja organizar politicamente as
massas, isso não pode mais ser feito à maneira antiga do partido de classe”[64].
Considerações finais
Os analistas ainda se debatem para decifrar
os enigmas das manifestações de junho de 2013 no Brasil.
Como salientado por Raquel Rolnik, a voz das
ruas não foi uníssona, tratando-se de “um concerto dissonante, múltiplo,
com elementos progressistas e de liberdade, mas também de conservadorismo
e brutalidade, aliás, presentes na própria sociedade brasileira”[65].
Segundo ela, “até a eclosão das manifestações na praça Taksim (e das
revoltas de junho no Brasil) o discurso hegemônico dos representantes do
fundamentalismo de mercado enquadrava esses movimentos basicamente como
protestos pela falta de emprego, renda e democracia representativa, ou de
uma combinação desses elementos, ignorando os inúmeros conteúdos e agendas
trazidos para as ruas, sobretudo o questionamento do ‘sistema’, essa velha
palavra que sintetiza o modo de produção econômico-político da sociedade”[66].
Como destacado, temas como falta de emprego e
renda não foram objeto das manifestações no Brasil.
Para Leonardo Sakamoto, “os grupos
conservadores mais radicais vão se aproveitar desse momento e botar lenha no
descontentamento, apontando como culpados a classe política que está no poder.
Flertam com ações autoritárias e, evidentemente, adorariam desestabilizar essas
instituições”[67].
Venício A. de Lima lembra que “a cultura política
que vem sendo construída e consolidada no Brasil tem sido a de permanentemente
desqualificar não só a política em si como seus atores”.
Para ele, as manifestações
foram “um sinal de esgotamento das instituições tradicionais das democracias
representativas”, sugerindo que “esse déficit na representação política do
Parlamento, acrescido do bloqueio histórico de vozes ao debate público e a
consequente corrupção da opinião pública, praticados pelos oligopólios
empresariais da velha mídia, talvez nos ajudem a compreender, pelo menos em
parte, a explosão das ruas”[68].
Em seu artigo “Problemas no Paraíso”, Slavoj Žižek
lembra que, “já em 2011, quando uma onda de manifestações
estava explodindo por toda a Europa e pelo Oriente Médio, muitos comentaristas
insistiam que não deveríamos tratá-los como momentos de um mesmo movimento de
insatisfação global, pois cada um deles reagia a uma situação específica: no
Egito, os manifestantes exigiam aquilo que as sociedades contra as quais o
movimento Occupy protestava já tinham
(a liberdade e a democracia); até mesmo nos países muçulmanos, a Primavera
Árabe no Egito e a Revolução Verde no Irã eram fundamentalmente diferentes:
enquanto o primeiro dirigia-se contra um autoritário regime pró-ocidental e
corrupto, o segundo condenava o autoritarismo islâmico”[69].
Žižek
constata que, em sua multiplicidade, os protestos “são todos reações contra as
múltiplas facetas da globalização capitalista”, e é isso que os unifica.
Segundo ele, “o que une esses protestos é o fato de que nenhum deles pode ser
reduzido a uma única questão, pois todos lidam com uma combinação específica de
(pelo menos) duas questões: uma econômica, de maior ou menor radicalidade, e
outra político-ideológica (que inclui desde demandas pela democracia até
exigências para a superação da democracia multipartidária usual)”[70].
Como aqui enfatizado, no Brasil predominou a
questão político-ideológica.
Para Marilena Chauí, “os manifestantes,
simbolicamente, malgrado eles próprios e malgrado suas afirmações explícitas
contra a política, realizaram um evento político: disseram não ao que aí está,
contestando as ações dos Poderes Executivos municipais, estaduais e federal,
assim como as do Poder Legislativo nos três níveis”[71].
Leonardo Sakamoto sustenta ser necessário
resolver o “déficit de democracia”, propondo “uma reforma política que se
concentre em ferramentas de participação popular”, pois, segundo ele, “só votar
e esperar quatro anos não adianta mais”[72].
Também para Erminia Maricato é necessária “a
reforma política, em especial o financiamento de campanhas eleitorais”,
considerando-a “o primeiro item necessário à política urbana”[73].
Ampliando a questão da reforma política, Venício
A. de Lima sustenta ser indispensável uma reforma política que “inclua a
regulação das comunicações como garantia de que se estabeleçam as condições
para a formação de uma opinião pública capaz de agregar mais vozes ao debate
público, vale dizer, para que mais brasileiros – e não só os rebeldes urbanos –
sejam democraticamente representados”[74].
Marcelo
Coelho entende que “a questão da PM é o grande tema ainda a ser tratado, junto
com reforma política, transportes, educação”[75].
Enquanto para Jorge Luiz Souto Maior, “o
desafio, agora, é consolidar esse avanço no que se refere às mobilizações dos
movimentos sociais”[76],
Marilena Chauí julga conveniente “lembrar aos manifestantes que se situam à
esquerda que, se não tiverem autonomia política e se não a defenderem com muita
garra, poderão, no Brasil, colocar água no moinho dos mesmos poderes econômicos
e políticos que organizaram grandes manifestações de direita na Venezuela, na
Bolívia, no Chile, no Peru, no Uruguai e na Argentina. E a mídia, penhorada,
agradecerá pelos altos índices de audiência”[77].
Em face do “momento agradável que estão tendo
nas ruas”, Žižek
alerta para o perigo de os manifestantes se apaixonarem por si mesmos. Como “está
claro que não vivemos no melhor mundo possível, os protestos globais devem
servir de lembrança ao fato de que temos a obrigação de pensar em alternativas”[78],
diz ele.
Para Francisco de Oliveira, “o ótimo é que a
sociedade mostrou que é capaz ainda de se revoltar, é capaz de ir para a rua.
Isso é ótimo. Não precisa resultados palpáveis. O que é bom em si mesmo foi o
fato de a população, alguns setores sociais, se manifestarem. Assustarem os
donos do poder, e isso foi ótimo. Isso é que é importante”[79].
Žižek
adverte, ainda, para uma interpretação, que ele denomina “populista”, em que “a
causa do problema, em última análise, nunca é o sistema como tal, mas o intruso
que o corrompeu (quem manipula as fichas, não os capitalistas como tais etc.);
não uma falha fatal inscrita na estrutura como tal, mas um elemento que não
cumpre corretamente seu papel dentro da estrutura”[80].
Esta
interpretação, diz ele, é sustentada “pela exasperação frustrada de pessoas
comuns, pelo grito de ‘não sei o que está acontecendo, só sei que para mim
chega! Isso não pode continuar! Isso tem de acabar!’ – uma explosão impaciente,
uma recusa a entender, uma exasperação com a complexidade e a consequente
convicção de que tem de haver um responsável por toda essa bagunça, e por isso
é necessário um agente que esteja nos bastidores e explique tudo”[81].
Como
já se disse, em nossa história, “tempos interessantes” são de fato os períodos
de agitação.
Segundo
Žižek,
“o desfecho dessa
situação está em aberto, e será resultado do processo político atualmente em
curso”[82].
Estamos,
diz ele, “no meio de uma mudança radical”[83], e “hoje, mais do que
nunca, torna-se pertinente o antigo lema de Mao Tsé-Tung: ‘Há caos sob o céu, a
situação é excelente’”[84]. Adverte, por isso, que “é
preciso aproveitar o momento quando ele chega”[85].
Quem
sabe, superando a pauta da “grande e velha mídia”, as manifestações possam
abranger a defesa da dignidade da pessoa humana e do mundo do trabalho.
Florianópolis, 20 de novembro
de 2013.
Oswaldo Miqueluzzi
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* Advogado, licenciado em História, assessor jurídico
da Federação dos Trabalhadores no Comércio no Estado de Santa Catarina –
FECESC, diretor da Associação Latino Americana de Advogados Trabalhistas –
ALAL, ex-vice-presidente da Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas –
ABRAT/Região Sul.
[2] In Ricardo Mendonça. ”'Dilma tem grande insensibilidade social',
diz guru da esquerda”.
[3] “Jornadas
de Junho e Revolução Brasileira”.
[7] “'Assustaram os donos do poder, e isso foi
ótimo', diz o sociólogo Chico de Oliveira”.
[11] “Jornadas
de Junho e Revolução Brasileira”. Segundo
ele, “aproveitando a visibilidade gerada pela Copa das Confederações da Fifa”,
a revolta da juventude transformou-se “numa revolta urbana de grande
envergadura”.
[13] “O Outono Quente e as
Estações que Seguem”. “A começar pelos problemas de mobilidade urbana que
estiveram no foco inicial dos eventos recentes, com o protesto contra o aumento
das tarifas de ônibus, a lista dos problemas a merecerem destaque inclui os das
áreas de saúde, segurança e educação, com a precariedade dos serviços públicos
oferecidos em cada uma delas, sem falar da conjuntura econômica marcada pelo
crescimento claudicante, a ameaça inflacionária, os gastos do governo, o
déficit nas contas externas… E há, por certo, o tema recorrente da corrupção
política, vista com frequência como a razão principal para as demandas
relacionadas com a ideia de reforma política”.
[14] “O Outono Quente e as Estações
que Seguem”. O sociólogo aponta que dados de relevância, como os fornecidos
pelo Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (INEC), mostram o oposto de
uma “insatisfação difusa” que tivesse subitamente emergido na população em
geral, ocorrendo o mesmo nos resultados de pesquisa IBOPE dirigida
especificamente às manifestações. Também para o ex-presidente Lula, as
manifestações ocorreram por que o povo “queria mais”, foi a “ascensão do País
motivou manifestações”, teria dito ele (“Lula diz que ascensão do País motivou
manifestações”).
[18] “Jornadas de Junho e Revolução Brasileira”. De acordo com André Singer, “não foi um gigante
que acordou, mas as suas diferentes classes, frações de classe e grupos que
resolveram sair da passividade” (Flores de inverno).
[21] “'Dilma tem grande insensibilidade social',
diz guru da esquerda”.
[22] “A vez do direito social e
da descriminalização dos movimentos sociais”, p. 83.
[23] “Manifestações
e a magistratura do Trabalho”. São os direitos já assinalados: ao transporte
público e acessível, à educação e à saúde pública, a democratização dos meios
de comunicação.
[24] “O Outono Quente e as Estações que Seguem”.
[25] Raquel Rolnik, “As vozes
das ruas: as revoltas de junho e suas interpretações”, p. 8. Esta interpretação
foi retirada por ela do editorial do semanário francês “Le Point”, de 27 de
junho de 2013, para quem, no mesmo editorial, o crescimento de “apenas 0,9% em
2012” da economia brasileira deveu-se à “política
estatista e protecionista da presidenta Dilma Rousseff”.
[27] Venício
A. de Lima. “Mídia, rebeldia
urbana e crise de representação?”, p. 90. O autor cita Wanderley Guilherme dos Santos, segundo quem
as classes C e D “têm menos capacidade de articulação no âmbito das
instituições [políticas] do que as classes A e B” (op. cit., p. 93).
[29] “Jornadas
de Junho e Revolução Brasileira”.
[30] “Flores de inverno”. No
mesmo texto, André Singer reconhece que o professor cientista político
Wanderley Guilherme dos Santos tem razão quanto ao fato de que pequenos
agrupamentos ultramobilizados serem “capazes de ocupar a cena com ações de
impacto, mesmo tendo representatividade próxima a zero”.
[31] “Manifestações expõem o
fato de que o poder não muda”.
[32] “Manifestações expõem o
fato de que o poder não muda”.
[33] “Em São Paulo , o Facebook e
o Twitter foram às ruas?”, p. 97. O autor lembra que “o Brasil é bem
conservador – da ‘elite branca’ paulistana à chamada ‘nova classe média’ que
ascendeu socialmente, tendo como referências símbolos do consumismo (e a ausência
deles como depressão). Trata-se de uma população com 93% a favor da redução da
maioridade penal. Que acha que mulher não é dona de seu corpo. Que é contra o
casamento gay. Que tem nojo dos imigrantes pobres da América do Sul. Que apoia
o genocídio de jovens negros e pobres nas periferias das grandes cidades.
Enfim, não é porque centenas de milhares foram às ruas por uma pauta justa que
essa realidade mudou” (ib.).
[35] Ib., p. 97-8. Para o dirigente do MST, João Pedro
Stedile, a mobilização foi feita “por uma juventude de classe média baixa que
nasceu no neoliberalismo e não tem experiência política” (citado por Cristiano
Navarro, Luís Brasilino e Renato Godoy em “O Junho de 2013”).
[37] “O Junho de 2013”, p. 4-5.
[38]
“Vencendo o terrorismo do medo: a hora da política”.
[44] “Mídia,
rebeldia urbana e crise de representação”, p. 92 e 93. Venício A. de Lima
destaca que, “ao contrário do que ocorre em outras democracias, no Brasil, a
velha mídia praticamente não oferece espaço ao debate de questões de interesses
público”. Para ele, “a velha mídia não pode mais ser considerada o ‘quarto
poder’, imparcial e independente, fiscalizador dos governos e expressão da
opinião do público, como ensinava o liberalismos clássico oitocentista” (Ib.,
p. 93 e 92).
[45] “Para
onde vai o governo?”, p. 3 – Editorial. De acordo com Laurindo Leal Filho, “num
claro movimento para aproveitar a oportunidade de ressuscitar a oposição, as
televisões abriram espaços generosos para figuras carimbadas desse campo
político. Fernando Henrique Cardoso no Canal
livre, da Bandeirantes, num domingo, e José Serra no Roda viva, da TV Cultura, na segunda seguinte, são apenas dois
exemplos” (“As
ruas e o vaivém da mídia”, p. 7).
[46] “O Junho de 2013”, p.
4-5. Eles citam o
historiador Lincoln Secco, da Universidade de São Paulo (USP), que destaca o
fato de que “nos últimos dez anos a grande imprensa martela diariamente parte
dos slogans que agora aparecem nas ruas: condenação seletiva da corrupção,
contra gastos públicos e impostos etc.”.
[47] “Jornadas de Junho e Revolução Brasileira”. Para ele, “em boa
medida, a ação diversionista da grande mídia teve êxito”.
[48] “O inferno urbano e a política
do favor, tutela e cooptação”. Para a revista “Caros amigos”, Marilena
Chauí afirmou que, “se você analisar a
quem se dirige a demanda fora o momento que começou a grita conta a Fifa, ela
era para os prefeitos e governadores de Estado. O que a mídia fez? Porque ela
está se preparando para 2014. Empurrou tudo para o colo da Dilma. Os prefeitos
saíram de cena, os governadores saíram de cena, e se transformou tudo num
problema federal”. Para ela, a mídia convocou e “dirigiu toda a demanda, toda a
crítica em direção à Dilma” (p. 11).
[49] “'Assustaram os donos do poder, e isso foi
ótimo', diz o sociólogo Chico de Oliveira”.
[50] “Os anos do povo”, p. 107.
[52] Vladimir Safatle, “O vazio político”.
Segundo ele, “era de esperar que alguém lembrasse, ao menos, dos nossos
absurdos nacionais, como a ausência de uma fiscalidade que sirva de base de
combate à desigualdade econômica e a inacreditável oligopolização de nossa
economia atual”.
[54] “Vencendo o terrorismo do
medo: a hora da política”. “Sobretudo”, diz ele, “diante de uma realidade em
que é cada vez mais comum a prática de transformar empregados em “PJs”, para
não pagar contribuições previdenciárias (sociais) e impostos”. Para ele, “seria
oportuno, ainda, trazer à baila a discussão em torno da tributação das grandes
fortunas, buscando um sistema tributário mais justo, pois no geral, no Brasil,
quem ganha menos paga mais”.
[55] “Vencendo o terrorismo do
medo: a hora da política”.
[57] “Manifestações e a
magistratura do Trabalho”. Paulo Schmidt, com clareza, alertou para os “juristas e
economistas formados na cartilha thatcherista”, que decerto se escandalizariam
com suas propostas, afirmando “que o Estado não tem condições de suportar mais
despesas, evocarão a reserva do possível e acenarão com o catastrofismo
intergeracional”.
[58] “Atos reforçam imaginário
do Estado com fundos infinitos”.
[59] “'Assustaram os donos do poder, e isso foi
ótimo', diz o sociólogo Chico de Oliveira”.
[60] “Manifestações expõem o
fato de que o poder não muda”.
[61] Alysson Leandro Mascaro, no
Prefácio, escrito em setembro de 2010, da obra “Em defesa das causas perdidas”,
p. 16.
[62] “O universo neoliberal em desencanto”, p.
11.
[63] Citado por Žižek, em “Em defesa das causas
perdidas”, p. 357.
[64] “Em defesa das causas perdidas”, p. 402.
Žižek assinala que o “verdadeiramente subversivo não é insistir em exigências
‘infinitas”, que sabemos que não podem ser cumpridas pelos que estão no poder
(como eles sabem que nós sabemos, fica fácil para eles aceitar essa atitude de
‘exigir infinitamente’: ‘Que maravilha que, com suas exigências críticas, vocês
nos lembrem em que tipo de mundo todos gostaríamos de viver; mas, infelizmente,
nós vivemos no mundo real, onde só fazemos honestamente o que é possível’),
mas, ao contrário, bombardeá-los com exigências precisas, finitas e estrategicamente bem escolhidas, que não
permitam a mesma desculpa” (ib., p.
349).
[65]
“As
vozes das ruas: as revoltas de junho e suas interpretações” p. 12. “No Brasil, diz ela, tanto PSDB como PT foram
alvos dos protestos, mas a mídia vem tentando jogar o maior ônus da conta no
governo Dilma, tendo em vista os protestos que vem ocorrendo em paralelo contra
a farra bilionária do dinheiro gasto com a Copa do Mundo/Confederações” (PT e
PSDB são os partidos que vêm se alternando no poder no Brasil nos últimos 20
anos).
[66] Ib.,
p. 11-12.
[67] “Em São Paulo , o Facebook e
o Twitter foram às ruas”, p. 99.
[68] “Mídia, rebeldia urbana e
crise de representação”, p. 90. O autor cita Campello de Souza, para quem se
tem, “muitas vezes a impressão de que corrupção, cinismo e desmandos são
monopólio dos políticos, dos partidos ou do Congresso” (p. 92-3).
[69] In “Cidades
rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil”, p.
103. Segundo ele, “é fácil observar como essa
particularização de protestos ajuda os defensores da ordem mundial existente:
não há nenhuma ameaça contra a ordem global como tal, e sim problemas locais
específicos” (ib.).
[70] Ib.,
p. 104.
[71] “O inferno urbano e a política
do favor, tutela e cooptação”.
[72] “Em São Paulo , o Facebook e o Twitter foram às ruas”
p. 100.
[75] “Manifestações expõem o fato de que o poder
não muda”.
[76] “A vez do direito social e
da descriminalização dos movimentos sociais”, p. 83.
[79] “'Assustaram os donos do poder, e isso foi
ótimo', diz o sociólogo Chico de Oliveira”.
[80] “Em defesa das causas perdidas”, p. 282.
[81] “Em defesa das causas perdidas”, p. 285.
[83] “Em defesa das causas perdidas”, p. 447.
[85] “Em defesa das causas perdidas”, p. 388.
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