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SAÚDE DO TRABALHO
Em debate, médica critica empresas 'verdes porfora e cinzentas por dentro'
Foto: Maria Maeno
Pesquisadora da Fundacentro lembra que muitas companhias já
foram condenadas por expor trabalhadores a condições inadequadas
publicado 11/12/2013
São Paulo – Em conferência sobre saúde do trabalhador, hoje (11), a médica
do Trabalho Maria Maeno, pesquisadora da Fundacentro (fundação vinculada ao
Ministério do Trabalho e Emprego), afirmou que o desenvolvimento sustentável é
um termo muito usado pelas empresas para valorizar a sua imagem, mas algumas
delas "são verde por fora e cinzenta por dentro". Ela lembrou que
Santander, Perdigão, Sadia, Walmart, Petrobras, Itaú, entre outras companhias,
já foram condenadas a partir de diferentes ações do Ministério Público do Trabalho
(MPT), por demissões de trabalhadores adoecidos, exposição de trabalhadores a
substâncias tóxicas e desrespeito a pausas mínimas de trabalho, entre outros
problemas.
"São grandes empresas que se dizem sustentáveis e com responsabilidade
corporativa, que plantam árvores, mas sabemos que isso não e bem assim. Eles
não contam a quantidade de lixo que produzem nem como tratam a saúde de seus
trabalhadores", disse a médica, durante a 1ª Conferência Estadual de Saúde
do Trabalhador, organizada pela CUT paulista. O evento, que vai até amanhã,
visa a sistematizar propostas para serem encaminhadas à conferência nacional,
prevista para novembro do ano que vem.
Para Maria Maeno, é necessário criar uma relação entre a saúde do
trabalhador e o meio ambiente, como movimentos históricos, com perspectivas
diferentes e pontos em comum. "Quando discutimos o Brasil funcionando 24
horas por dia, discutimos o mundo do consumo e países que optaram por esse
modelo econômico. Mas não podemos esquecer que isso significa mais trabalhadores
em ciclos nocivos à sua saúde e mais lixo no meio ambiente. Quando falamos em
rios poluídos, devemos falar também da forma de coleta que temos e das
condições de trabalho que isso envolve."
Ela destaca que a abordagem das empresas está sempre direcionada ao
indivíduo. "Se ele sofreu um acidente, é porque não prestou atenção. A
utilização que as empresas fazem para culpar o trabalhador pelo seu acidente é
generalizada. São inúmeras as doenças hoje provocadas pelo trabalho, o que só
aumenta o ônus para toda a sociedade."
Segundo dados do Ministério da Previdência Social, em 2012 o Brasil teve
mais de 700 mil acidentes de trabalho. Em São Paulo, foram cerca de 245 mil –
destes, cerca de 40 mil referem-se à denúncias feitas por sindicatos ou outras
fontes, excluídas as empresas. Do total de acidentes no ano passado no estado,
53% atingiram trabalhadores de 19 a 34 anos. Em média, 18 empregados por dia
não retornaram ao trabalho, por invalidez ou morte.
"O mundo do trabalho é cruel. O recurso financeiro, em vez de ser gasto
com saúde e prevenção, está sendo utilizado para doença, invalidez e acidentes.
Temos de nos organizar e mudar essa lógica, porque ao capital não interessa
fazer essa mudança”, afirma a secretária da Mulher Trabalhadora da Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS), Maria Godói.
Para ela, o debate sobre as condições de saúde deve ser feito em conjunto
com outros relacionados ao mundo do trabalho. Terceirização, competitividade,
pressão pelo cumprimento de metas, rotatividade, pessoas expostas a ritmo
acelerado, instabilidade e ameaça de desemprego estão diretamente interligados
à saúde.
"Para propiciar um mundo de trabalho competitivo, tudo gira em torno de
valor financeiro e não humano. Isso cria um sentimento de vulnerabilidade que
reflete na vida social dos trabalhadores, com aumento das doenças ocupacionais,
hipertensão, assédio moral, distúrbios mentais, estresse, doenças
respiratórias", afirma a sindicalista. "A saúde não pode ser isolada
do resto. Sabemos do enfrentamento que temos de fazer nas inúmeras áreas,
porque a meta do capital não é a nossa, ela não observa a vida."
Discussões sobre nanotecnologia também fizeram parte da conferência. Segundo
alguns dos participantes, a nanotecnologia vem ganhando espaço nas mesas
de negociações. A manipulação da matéria em escalas muito pequenas ainda tem
efeitos pouco conhecidos por parte de trabalhadores e patrões.
"Se tivermos de pensar numa escala, podemos imaginar o nanômetro como
um grão de areia, localizado entre Salvador e Natal, na distância de 1.126
quilômetros entre estas duas cidades”, afirma o técnico do Dieese Thomas
Ferreira Jensen. "O mesmo material considerado seguro na escala maior, na
escala nanopartícula pode entrar na pele, ou se tornar aerosol e entrar no
organismo via respiratória."
Segundo o Dieese, no Brasil existem cerca de 150 empresas envolvidas com
projetos de desenvolvimentos de produtos em nanotecnologia, interagindo com
setor acadêmico, com destaque para as petroquímicas e cosméticos. Desde
2008, os trabalhadores do ramo químico discutem em negociação coletiva os
riscos que envolvem a nanotecnologia e tentam inserir cláusula em convenção,
mas enfrentam resistência do lado patronal. Em abril do ano passado, o setor
farmacêutico foi o primeiro a aceitar a inclusão do tema em acordo, como
recomendação para as Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (Cipas)
abordarem com os trabalhadores os riscos existentes e medidas de proteção.
"A incorporação do progresso técnico tanto pode ser benéfica como
danosa. Ainda não há estudos confiáveis para avaliar os riscos da
nanotecnologia na saúde do trabalhador, mas é necessário incorporar essas
tecnologias a um processo seguro", afirma Jensen. As negociações e
estudos em torno de nanotecnologias envolvem as assessorias do Dieese,
Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de
Trabalho (Diesat), Fundacentro e sindicatos.
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