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Quinta-feira,
15 de maio de 2014
Em
documento, Aécio prega acordo 'urgente' com EUA e fim do Mercosul
14 maio, 2014 -
10:44 — Simone
Reprodução
Retomar a Alca entra no rol das possíveis
'medidas impopulares' do candidato tucano, que como presidente da Câmara cobrou
fechamento imediato de acordo de livre comércio com Casa Branca
14/05/2014
por Helena Sthephanowitz ,
Em recente passagem por Porto Alegre, para uma
palestra durante o chamado Fórum da Liberdade, promovido pelo Instituto de
Estudos Empresariais (IEE), o senador e pré-candidato do PSDB à Presidência da
República, Aécio Neves, propôs o fim do Mercosul, que na sua visão deveria ser
substituído por uma área de livre comércio.
A proposta remete à Área de Livre Comércio das
Américas (Alca), um projeto, digamos, neocolonizador para a América Latina,
lançado pelo ex-presidente dos EUA Bill Clinton e abraçado pelo governo tucano
de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Não chega a causar surpresa as declarações do
senador mineiro, se resgatarmos sua atuação como presidente da Câmara dos
Deputados.
No ano de 2001, por exemplo, Aécio Neves
estendeu o tapete vermelho do Parlamento brasileiro para o então secretário de
Defesa dos EUA, William Cohen, empurrar a Alca goela abaixo do Brasil. O
seminário "O Brasil e Alca", na Câmara, tinha oficialmente o objetivo
de debater o tema, mas politicamente foi uma ação de pressão política, para
reduzir resistências e abrir caminhos para a implementação daquele projeto.
Do encontr, foi produzido o compêndio – há quem
chame de livro – com o mesmo nome do seminário, organizado pelo
ex-deputado neoliberal Marcos Cintra (PFL) e pelo diplomata Carlos Henrique
Cardim. O prefácio é de Aécio Neves e, nele, encontramos um pouco de seu
pensamento de rendição à dependência econômica do país, via Alca.
O atual presidenciável dava como certa a
implementação da Alca, e tratava o evento que acabara de patrocinar como
"um marco" para alcançar os objetivos (estadunidenses), chamados por
Aécio como "formidável":
"De fato, o Seminário “O Brasil e a Alca”,
realizado nas dependências da Câmara dos Deputados, por iniciativa desta Casa,
nos dias 23 e 24 de outubro de 2001, pode ser interpretado – e certamente
assim o será nos anos vindouros – como um marco na trajetória de nosso processo
de integração continental.
(...)
Sem dúvida, a liberalização do comércio em um
território habitado por mais de 800 milhões de pessoas, com um PIB conjunto de
US$ 11 trilhões, simultaneamente à construção de uma normativa comum em áreas
como a de serviços, de investimentos, de compras governamentais e de propriedade
intelectual, é, em si mesma, um objetivo formidável."
Este parágrafo acima é uma pérola de servilismo, que parece até escrita pelo
Departamento de Estado dos EUA e apenas entregue a Aécio para assinar, pois nem
sequer cita as barreiras impostas pelos norte-americanos para a entrada de
produtos agrícolas brasileiros, um contencioso histórico.
Ou seja, defendeu integralmente que o Brasil
abrisse seu mercado interno para os EUA, sem sequer exigir qualquer
contrapartida, mesmo em setores que o Brasil já era mais competitivo.
Como se não bastasse, o prefácio de Aécio ainda trata a Alca como "acordo
já firmado", "caráter urgente", e estabelece prazo-limite para
2005, o que faz o texto parecer mais uma peça de lobismo escancarado.
"... Há que se ressaltar o caráter
relativamente urgente de tão ambicioso empreendimento. Com efeito, não
defrontamos com um mero protocolo de intenções, mas, sim, somos partícipes
de um acordo já firmado sobre o cronograma das correspondentes
negociações, o qual prevê a conclusão dos entendimentos no horizonte já
visível do ano de 2005".
Para se ter uma ideia, a proposta de fazer um
tratado de livre comércio amarrando compras governamentais condenaria todo o
futuro da política de conteúdo nacional na exploração do pré-sal. Hoje o Brasil
já cria uma indústria até de sondas de perfuração, a qual nunca teve. Com a
Alca, teria de comprar eternamente tudo em Houston. O resultado imediato disso?
Desemprego e desindustrialização no Brasil.
Com a Alca, dificilmente teríamos como escolher
o caça sueco Grippen e participar de seu desenvolvimento tecnológico. Seríamos
praticamente obrigados, por tratados, a comprar os caças da Boeing e nas
condições deles de não oferecer transferência de tecnologia.
Também eram um desastre anunciado as cláusulas
de proteção de investimento. Se um investidor americano fizesse uma aplicação
financeira no Brasil e o dólar aqui desvalorizasse, teríamos de pagar
indenização por isso.
Outro desastre seria a abertura irrestrita do
mercado a bancos e seguradoras dos EUA. Imaginem o rico dinheiro da poupança do
cidadão brasileiro aplicado no Lehman Brothers, que faliu na primeira das
recentes crises internacionais, em 2008...
Agora, a ameaça de acabar com o Mercosul e
retomar a agenda da Alca entra no rol das "medidas amargas" e
impopulares – já anunciadas, mas ainda obscuras – propostas pelos tucanos.
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