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Jornal do Terra
Papa Francisco: sistema econômico descarta jovens e idosos
Pontífice também disse que está preocupado com os
movimentos separatistas na Europa, em particular na Escócia (Reino Unido) e
Catalunha (Espanha)
Foto:
Giampiero Sposito / Reuters
O papa Francisco voltou a
criticar em uma entrevista o modelo econômico atual, que "alimenta uma
cultura do descarte", especialmente contra os jovens e os idosos.
"A economia se move pelo
afã de ter mais e, paradoxalmente, se alimenta uma cultura do descarte. Os
jovens são descartados quando se limita a natalidade. Os idosos também são
descartados porque não servem mais, não produzem", afirmou o pontífice
argentino em uma entrevista ao jornal La Vanguardia, de Barcelona.
"Ao descartar os jovens
e os idosos, se descarta o futuro de um povo porque os jovens vão seguir com
força para a frente e porque os idosos nos dão a sabedoria, têm a memória deste
povo e devem passá-la aos jovens", completou Francisco.
O líder espiritual católico se
mostrou muito preocupado com o desemprego entre os jovens que afeta a economia
europeia, com países como a Espanha com mais da metade dos jovens sem trabalho.
"Alguém me disse que 75
milhões de europeus com menos de 25 anos estão desempregados. É uma barbaridade.
Mas descartamos toda uma geração por manter um sistema econômico que não se
aguenta mais", lamentou.
"No centro de todo
sistema econômico deve estar o homem, o homem e a mulher, e tudo o mais deve
estar a serviço deste homem. Mas nós colocamos o dinheiro no centro, o deus
dinheiro. Caímos em um pecado de idolatria", afirmou o pontífice.
No dia 9 de maio, o Papa
manifestou a preocupação em um discurso no Vaticano diante de uma delegação da
ONU liderada pelo secretário-geral Ban Ki-Moon, a quem pediu uma mobilização a
favor da ética mundial contra as injustiças econômicas.
Na mesma entrevista, o
pontífice disse que está preocupado com os movimentos separatistas na Europa,
em particular na Escócia (Reino Unido) e Catalunha (Espanha). "Toda
divisão me preocupa", afirmou o Papa.
Francisco diferenciou as
independências por emancipação das ex-colônias dos impérios europeus, como
aconteceu nos países americanos, e as independências por secessão como no caso
da ex-Iugoslávia.
"Obviamente há povos com
culturas tão diversas que nem com cola poderiam ser unidos. O caso iugoslavo é
muito claro, mas eu me pergunto se é tão claro em outros casos, em outros povos
que até agora estiveram juntos", disse Francisco.
"Temos que estudar caso
por caso. Escócia, Padania, Catalunha. Teremos casos que serão justos e casos
que não serão justos, mas a secessão de uma nação sem um antecedente de unidade
forçada deve ser considerada com muito cuidado", opinou.
No dia 18 de setembro, os
escoceses votarão em um referendo para decidir sobre a independência da região
do Reino Unido. Na Catalunha, o governo nacionalista da região pretende fazer o
mesmo em 9 de novembro, mas não recebeu a aprovação do Executivo central, que
não aceita qualquer tipo de consulta.
O papa Francisco admitiu
ainda na entrevista o risco que sofre ao renunciar ao papamóvel blindado, que
chama de "lata de sardinhas", mas destacou que na sua opinião não tem
muito o que perder em sua idade.
O pontífice argentino de 77
anos recordou que em julho de 2013, as autoridades do Brasil prepararam um
papamóvel com vidro blindado para sua proteção durante a Jornada Mundial da
Juventude.
"Mas eu não posso saudar
um povo e dizer que o amo dentro de uma lata de sardinhas, mesmo que seja de
vidro", disse.
"Para mim isto é um
muro. É verdade que algo pode acontecer comigo, mas sejamos realistas, na minha
idade não tenho muito a perder", completou. "Sei que algo pode
acontecer comigo, mas estão nas mãos de Deus", afirmou.
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