domingo, 20 de julho de 2014

BRICS & Bretton Woods: Eis porque dizem que o dólar pode acabar em 2 ou 3 anos





               
                 http://www.emdireitabrasil.com.br


Opinião 
Eis porque dizem que o dólar pode acabar em 2 ou 3 anos
Por Francisco Vianna, em 16 Jul 2014
Há exatamente 70 anos, do dia de hoje, centenas de delegados de 44 nações estavam aferrados ao trabalho, em Bretton Woods, no pequeno estado americano de New Hampshire, para criarem um novo sistema financeiro para o mundo livre. A II Guerra Mundial tinha acabado de terminar e a Europa estava em ruínas.
E, uma vez que os EUA eram, simultaneamente, a maior economia do mundo, o principal vencedor da guerra, e a única grande potência com sua capacidade produtiva intacta, não foi difícil para os americanos ditarem seus termos: o dólar iria dominar o novo sistema financeiro mundial. Cada nação passaria a acumular dólares como moeda de reserva primária, e o dólar seria trocado por ouro a razão de 35 dólares por onça do metal. Além disso, o comércio global seria realizado e liquidado em dólares e esses assentamentos abririam através do sistema bancário dos EUA.
Naturalmente, isso criou uma demanda substancial de moeda americana por governos estrangeiros que precisavam começar a acumular dólares para garantir suas reservas e equilibrar o comércio internacional. Assim, através de uma variedade de programas, desde o Plano Marshall ao FMI e o Banco Mundial, os EUA começaram a inundar o mundo com dólares.
Inicialmente tudo correu conforme o planejado. Mas logo o governo dos EUA percebeu que algo importante na demanda estrangeira pelo dólar foi tão forte que eles passaram a impressão de ter mais dólares do que tinham em ouro. Isto lhes permitiu executar todos os tipos de déficits e iniciativas de gastos – mais guerra, mais bem-estar, mais lixo... – tudo com responsabilidade mínima. Inicialmente, as consequências foram insignificantes. Claro que o preço do ouro em Londres foi alguns dólares mais elevado do que nos EUA (eles chamavam isso de "janela do ouro"). Mas a demanda para o dólar ainda era forte. Então, por que se preocupar em mudar, não é mesmo?
Em 1971, a situação já tinha ficado muito pior. Outra década de guerra e os gastos excessivos, os déficits comerciais e a impressão de dinheiro sem lastro já havia empurrado muitas nações estrangeiras para situações pré-falimentares. As reservas em dólar das nações estrangeiras superaram as participações do governo dos EUA em ouro. E, com a confiança em declínio, muitos começaram a resgatar seus dólares por ouro.
Apenas alguns dias depois disso, Richard Nixon pôs um fim a isso e rescindiu unilateralmente a conversibilidade do dólar dos EUA ao ouro. Estava anulado o padrão ouro como base de lastro do dólar no mundo.
Pense agora sobre a magnitude dessa decisão: Nixon efetivamente deu "um calote de colarinho branco" nas obrigações norte-americanas para com o resto do mundo – uma traição completa de sua confiança e aos princípios do capitalismo privado. No entanto, apesar de tal choque enorme redefinir o sistema financeiro global, o dólar de alguma forma conseguiu manter-se a moeda número um da reserva financeira do mundo.
Você acha que os EUA deviam ter sido gratos, dando graças à sua 'estrela da sorte' pelo fato de o resto do mundo lhes dar uma segunda chance? Mas não. Ao longo dos últimos 43 anos, os EUA continuaram a imprimir, desvalorizar e vilipendiar o dólar.
Depois, outro democrata 'progressista', Bill Clinton, agravou muito mais as coisas usando o incipiente capitalismo de estado americano para corromper todas as medidas de segurança do mais poderoso sistema bancário do mundo e forçá-lo a por em prática, ainda que de modo indireto, o distributivismo socialista de crédito para que "todos os americanos pudessem adquirir, mesmo sem poder, suas casas próprias e outras coisinhas mais típicas do 'sonho de estilo de vida americano'".
A bolha do subprime então cresceu vertiginosamente e explodiu na cara daqueles que compraram os falsos papéis 'tóxicos' do Banco Central Americano, o FED, mas que acabou gerando um tsunami no ambiente financeiro internacional cujas consequências ainda não foram totalmente contornadas.
Ao longo desse caminho, o FED criou outras bolhas não tão épicas e choques financeiros não tão destrutivos que atingiram direta ou indiretamente todas as demais nações do planeta. Essas nações, por sua vez, passaram a correr atrás dos maiores déficits e atingir níveis de endividamento jamais vistos na história do mundo. Brigavam internamente ao ponto de tentarem desligar seus governos de suas economias. O bloco da União Europeia, que tentava se transformar numa espécie de "Estados Unidos da Europa" empacou e seus países membros voltaram a se aferrar aos seus nacionalismos tradicionais. Bom isso, na medida em que o bloco voltou a ser apenas um bloco econômico, para desânimo da Alemanha.
O Congresso americano fez aprovar regulamentos dolorosamente arrogantes e que forçaram o resto do mundo a embarcar, sob ameaças, em algo equivalente a um homicídio financeiro. Puseram suas autoridades fiscais e valores mobiliários para aterrorizar qualquer um que não fizesse negócios com os EUA ou que passassem a fazer negócios com países desafetos dos americanos.
A Casa Branca e o FED ignoraram totalmente os apelos estrangeiros para a reestruturação do FMI e do Banco Mundial. Surraram os bancos estrangeiros com multas recordes, simplesmente por fazer negócios com outras nações que não fossem os EUA ou que os EUA não gostassem.
Acontece que o lastro real para as emissões de moeda, em dólares, autorizadas pelo FED americano, na verdade, era o montante da dívida dos demais países com Washington, dívida essa que não poderia ser liquidada quer com dólares quer com qualquer outro metal ou valor de mercadoria disponível, inclusive o petróleo.
Assim sendo, o Tesouro americano encontrou afinal uma "fórmula" para receber essa dívida do resto do mundo: imprimir dólares. E apesar dos trilhões impressos, acreditem, eles ainda têm muitos outros a receber do resto do mundo, que ajudaram a conhecer a maior prosperidade de todos os tempos: a ocorrida na segunda metade do século XX.
Os países que hoje querem sair desse redemoinho financeiro, como os BRICS, se esforçam para instituir um novo padrão financeiro para o mundo e para o comércio internacional. Todavia, a dívida para com os americanos ainda é grande demais e muitos não acreditam que conseguirão o que pretendem, mesmo porque, com exceção da China, suas ambições extrapolam os limites do econômico e invadem perigosamente o âmbito do político.
Em todo o caso, desde a supressão do padrão ouro pela administração democrata de Richard Nixon, qualquer tipo de calote pode ser considerado a partir desse calote americano. O que não sabem é se podem arcar com as consequências disso.
Se isso for possível sem guerra, o dólar deverá desaparecer como padrão monetário internacional em questão de dois a três anos. Caso contrário continuará a financiar a "pax americana", como a maioria parece desejar.
Na verdade, procura-se uma nova Bretton Woods para o mundo atual... Mas o Grupo de Bilderberg não parece disposto a incluir o tema em sua agenda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário