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Direitos Humanos
Ex-delegado
admite ter matado pessoas e incinerado corpos durante a ditadura
Zuzu era
mãe do desaparecido Stuart Angel e mobilizou a opinião pública nacional e
estrangeira em busca de seu filho. A repercussão do caso prejudicou a imagem do
regime militar no exterior. "Éramos confidentes, frequentávamos a casa um
do outro. Um dia, ele me disse que havia planejado simular o acidente dela e
estava preocupado, pois achava que havia sido fotografado na cena do crime pela
perícia", afirmou o delegado ao coordenador da Comissão, Pedro Dallari, e
aos membros da CNV José Carlos Dias e Paulo Sérgio Pinheiro, que colheram seu
depoimento.
Guerra
foi condenado e cumpriu pena por três tentativas de homicídio, resultantes de
um atentado à bomba do qual participou nos anos 80 no Espírito Santo. Na cadeia
converteu-se ao Cristianismo, tornou-se pastor da Assembleia de Deus e afirma
querer fazer sua parte "para que uma página triste de nossa história seja
passada a limpo".
Em seu
depoimento, Guerra afirmou que incinerou os corpos de 12 militantes políticos e
que assassinou e incinerou em seguida um tenente de nome Odilon, numa
"queima de arquivo determinada pelo SNI". O ex-delegado contou também
que executou, a pedido do Serviço Nacional de Informações, três militantes em
São Paulo, um em Recife e "dois ou três" no Rio. "Se cumprisse
pena por tudo o que fiz nunca iria sair da cadeia", afirmou.
Perguntado
sobre qual o motivo de um delegado de outro Estado ser chamado para executar
militantes políticos perseguidos em outros locais, Guerra, que afirma ter
aprendido técnicas de tiro com um ex-agente do Mossad (serviço secreto
israelense), afirmou que a técnica era uma medida previamente estabelecida pela
repressão para não vincular autoridades locais aos assassinatos praticados pela
ditadura. Ele admitiu, por exemplo, que no caso de pelo menos uma das pessoas
que ele matou, as autoridades simularam depois que houve um tiroteio.
Na
avaliação do coordenador da CNV, Pedro Dallari, os principais pontos do
depoimento de Guerra foram a indicação da participação de Freddie Perdigão
Pereira na morte de Zuzu Angel, já reconhecida pelo Estado como uma morte
relacionada à sua militância, mas cujo assassinato jamais foi admitido por
agentes da repressão, e o fato de o depoimento trazer elementos que mostram as
graves violações de direitos humanos de oposicionistas do regime como uma
política de Estado da ditadura.
O
arquivo da transmissão ao vivo do depoimento de Cláudio Guerra já está
disponível: http://us.twitcasting.tv/cnv_brasil/movie/82575654.
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