Dilma
promete a Lula e ao PT que vai rever pontos do ajuste fiscal
Presidente
não detalhou quais pontos estaria disposta a ceder, mas o comunicado é visto
com otimismo pelo partido
AE
A presidente Dilma Rousseff comunicou ao PT e ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que está disposta a mudar as medidas
provisórias 664 e 665, que restringem a concessão de benefícios trabalhistas e
integram o ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Dilma não detalhou quais pontos estaria disposta a
ceder, mas o comunicado é visto com otimismo pelo PT. As MPs 664 e 665 são
apontadas pela sigla como o principal motivo de desgaste da presidente neste
início de segundo mandato, maior até do que as denúncias de corrupção na
Petrobras reveladas pela Operação Lava Jato. A disposição de Dilma em reduzir o
corte é vista como indício de uma reação política. Se mantidas como estão, as
MPs renderiam uma economia de R$ 18 bilhões ao ano para o governo.
Um dirigente petista afirma reservadamente que as
denúncias sobre a Petrobras já eram públicas durante a campanha eleitoral
enquanto as medidas de ajuste fiscal pegaram de surpresa tanto o partido da
presidente quanto os movimentos sociais, em especial sindicatos, que gravitam
no entorno do partido. Pesquisas internas mostram que parte do eleitorado
petista considerou as MPs um "estelionato eleitoral".
Em um evento da campanha de 2014 em Campinas (SP),
Dilma foi questionada sobre a possibilidade de mudar direitos trabalhistas e
respondeu: "nem que a vaca tussa". Nos protestos que levaram
multidões às ruas no dia 15 de março, vários manifestantes abordaram o tema em
cartazes com a frase: "a vaca tossiu".
Além disso, as medidas provocaram distanciamento
entre Dilma e os movimentos historicamente ligados ao PT que também protestaram
nas ruas contra as medidas, dois dias antes.
Acerto de ponteiros
Na noite desta segunda-feira, 23, mais de 20
parlamentares petistas participaram de um reunião com ministros da equipe
econômica para discutir as MPs. O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC),
afirmou que defenderá na próxima reunião da bancada que as duas medidas
provisórias sejam aprovadas tais quais editadas pelo Executivo, mas ponderou
que ainda não existe posição fechada e que a legenda pode pedir alterações
pontuais. "Os parlamentares estão mais tranquilos", disse Sibá.
A necessidade de Dilma recuar diante das MPs foi
objeto de reuniões do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
Vagner Freitas, e do senador Paulo Paim (PT-RS) com o presidente nacional do
PT, Rui Falcão, e com Lula, ontem, em São Paulo. Lula está agindo para evitar
que as medidas gerem uma debandada de aliados históricos e quadros políticos do
PT.
Durante a conversa, que aconteceu na sede do
Instituto Lula, na zona sul, a dupla falou da dificuldade de manter na base o
apoio ao governo se não houver uma mudança significativa no projeto. Lula
concordou com a análise e afirmou que o Planalto vai discutir esses temas.
Insatisfeito com o PT desde a campanha eleitoral,
Paim tem sinalizado a possibilidade de deixar a legenda se as MPs forem
aprovadas e deixou claro que não irá apoiá-las. Ao saber da insatisfação do
parlamentar, PSB, Solidariedade, PMDB e PDT se ofereceram para abrigá-lo.
Ao deixar a sede do Instituto Lula, Paim disse que
ficou "esperançoso" com a conversa. Segundo ele, o ex-presidente se
comprometeu a colaborar na negociação com o governo e incluiu outra demanda
histórica do movimento sindical, o fim do fator previdenciário, na relação de
temas que o governo deveria renegociar.
A preocupação agora é que Dilma não repita no caso
das MPs a "barbeiragem" cometida no anúncio do recuo da correção da
tabela do Imposto de Renda, demanda histórica do movimento sindical cujo
anúncio foi feito sem a presença de sindicalistas.
Em fevereiro, Dilma já havia sinalizado que o
conteúdo das MPs não era estanque.
"Estamos aperfeiçoando a legislação (de
benefícios trabalhistas) porque ela tem que ser aperfeiçoada. Assim como
fizemos com o Bolsa Família. Acho que sempre há negociação. Ninguém acha que em
um País democrático como o Brasil, que tem um Congresso livre, que tem
movimentos sociais sendo ouvidos e com os quais você dialoga, seja algo
fechado, que não há negociação", disse a presidente a jornalistas após uma
cerimônia diplomática no Palácio do Planalto.
A disposição de recuar na questão dos benefícios
ocorre no momento em que Dilma enfrenta uma rebelião da base no Congresso,
manifestações que pedem sua saída e os piores índices de aprovação desde que
assumiu o governo. Segundo levantamento CNT/MDA divulgado na segunda-feira, 65%
dos eleitores consideram o governo ruim ou péssimo contra apenas 11% que
avaliam a administração como ótima ou boa.
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