Noticia
EM DEFESA DA VIDA E DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
Extraordinário evento foi realizado em Belém-Par, de 9 a 11
de abril de 2014
CARAJÁS 30 ANOS – Seminário Regional Belém
Seminário Carajás em Belém-PA: “Todo
dia se faz luta na Amazônia”
Tiveram início as
discussões do Seminário Internacional Carajás 30 Anos, no âmbito da Etapa
Belém, na tarde desta quarta-feira, 9/4, com a mesa "A Amazônia no
contexto da acumulação do capital", com o professor Aluizio Leal (UFPA),
Ulisses Manaças (MST) e Luis Fernando Heredia (CIPCA), e com o professor
Willian Santos de Assis (UFPA) como moderador.
O professor Aluízio Leal frisou a forma
como a Amazônia é vista pelo avanço capitalista na região: um espaço para a
exploração. Tal visão vem sendo fortalecida desde o século XVIII,
intensificando-se a partir do século XIX. Ele destacou ainda o processo de
modernização conservadora empreendido na região, em que esse processo de
exploração é mantido, e se reflete sobre o processo de ocupação do território
pelo grande capital. Nesse contexto, a região torna-se (e assim é vista como)
exportadora de commodities (minério, soja, etc).
Manaças deu sequência ao debate, destacando
a importância de se inserir a Universidade nas discussões sobre as resistências
dos que se contrapõem e são atacados por esse tipo de visão. Ressaltou ainda
que as intervenções a Amazônia vêm sendo feitas “de fora para dentro”, e não
por seus povos. “É feita a partir da lógica de desenvolvimento do capital. Foi
assim em seus ciclos de exploração, como o da borracha, o das drogas do sertão,
etc”, naquilo que chamou de “processo de saque, em que a geografia é desenhada
a partir dos interesses do capital”. E continuou: “Isso atropela inclusive a
lógica de integração das culturas que compõem esse espaço. As iniciativas de
integração são meramente econômicas, como a IIRSA.
Essa lógica de integração, que tem por
base extrair recursos, não significa integração para os povos da Amazônia: é
conexão, é subordinação do território à lógica do capitalismo”, pontuou.
Manaças destacou também o arcabouço jurídico para essa intervenção, como as
revisões dos códigos Mineral e Florestal brasileiros, este último para que, por
exemplo, o agronegócio possa avançar para uma legislação reconstituída a partir
dos interesses das grandes corporações. “A sociedade brasileira vem sendo
sistematicamente derrotada nesse debate, ainda que as denúncias sejam feitas em
nível mundial”, denunciou, apontando ainda os governos federal, estaduais e
municipais atuando de forma conecta a esse controle do território, e a
mineração como carro-chefe desse processo.
Como alternativa, afirma que é
necessário se fazer a disputa ideológica, campo no qual o capital é mostrado
como moderno e avançado e as populações como atrasadas. “Esse é o desafio
central de construção e fortalecimento das identidades da Amazônia nesse
processo de resistência e enfrentamento. As identidades devem ser respeitadas como
sua grande riqueza. Outro desafio é o intercâmbio das experiências de
resistência. Luta se faz cotidianamente na Amazônia: por indígenas; por
populações pescadoras que são desrespeitadas pelo Estado; pelas periferias. Se
o capital atua em frentes, as formas de resistência também precisam atuar em
grandes frentes para unificar suas lutas”, asseverou.
Luis Fernando Heredia, do Centro de
Investigação e Promoção do Campesinato (CIPCA), da Bolívia, demonstrou que os
projetos de desenvolvimento na Amazônia são financiados pelo capital
internacional. Ele apontou que, somente em 2011, América Latina e Caribe
receberem mais de 153 bilhões de dólares, com a maior parte indo para o Brasil,
num processo que chamou de "estrangeirização da terra na Amazônia".
Ele citou ainda que a maior parte das 417 hidrelétricas construídas na América
Latina estão em terras indígenas e territórios tradicionais. Citou que, na
Bolívia, o avanço sobre as comunidades também não é diferente: 11 das 22 áreas
protegidas estão afetadas pela exploração dos hidrocarbonetos, que aumentou no
período de 2007 a 2014.
INUNDAÇÕES de 2014- na Bolívia, mais de
68 mil famílias estão atingidas. Sobre Santo Antônio e Jirau, hidrelétricas
brasileiras, o Governo Central da Bolívia determinou investigação sobre efeitos
da construção desses empreendimentos na Bolívia. Destacou ainda que, no Brasil,
entre 2009 e 2012, mais de 60 lideranças indígenas foram assassinadas por
defender seus territórios.
ESPERANÇAS - Heredia, entretanto,
destacou que, mesmo nesse cenário, há esperança, e não apenas problemas. Nesse
sentido, destaca a constitucionalização, na Bolívia e no Equador, do "BOM
VIVER", como princípio ético e moral, uma proposta que nasceu dos povos
indígenas. Com esse conceito, a natureza, enquanto construção social, deve ser
reinterpretada, rompendo com a concepção desenvolvimentista moderna, na qual
ela é vista como recurso a ser domado.
O Viver Bem contempla ainda a
reciprocidade e a convivência intercultural entre suas bases. "É estar bem
com os demais e com a natureza. Uma concepção holística da vida que parte dos
povos indígenas como resposta à crise civilizatória. É o direito à felicidade,
explicada como a satisfação das necessidades materiais, socioespirituais.
Perpassa a dimensão humana, coletiva e ambiental. É um processo
revolucionário", explicou.
Por: Cláudio Castro
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