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'Mato Grosso é a faixa de Gaza do Brasil', diz Viveiros de Castro
SYLVIA
COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A PARATY
ENVIADA ESPECIAL A PARATY
"Os
indígenas brasileiros estão vivendo uma ofensiva final", disse o
antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, em uma das duas mesas sobre questões
indígenas desta edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Para
o estudioso, há um avanço sistemático dos grandes proprietários de terras do
Brasil contra os direitos dos indígenas, garantidos pela Constituição de 1988.
"Isso está acontecendo sob o olhar complacente do Judiciário. Há uma
campanha a todo vapor do Legislativo para acabar com esses direitos. Precisamos
lembrar que o Congresso brasileiro é formado por uma maioria de proprietários
rurais."
Muito
aplaudido, do lado de dentro e do lado de fora da Tenda dos Autores, ao lado do
também antropólogo Beto Ricardo, Viveiros de Castro afirmou que o Mato Grosso,
"onde não há mais mato", é a faixa de Gaza do Brasil. "Os
guaranis, ali, estão confinados em reservas mínimas, das quais são
frequentemente expulsos. Trata-se de um território que está sendo devastado,
arrasado".
Raquel
Cunha/Folhapress
O antropólogo Eduardo
Viveiros de Castro em mesa na Tenda dos Autores
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Do
lado de fora, o público tomou todas as cadeiras disponíveis diante do telão, e
muitas pessoas se aglomeraram, de pé, para assistir.
Do
lado de dentro, o príncipe Dom João de Orleans e Bragança, descendente da
família real portuguesa, estava entre os que aplaudiam às críticas contra o
avanço dos europeus sobre as Américas.
Viveiros
de Castro, que disse ter vergonha de ser brasileiro pelo sofrimento causado à
população originária do país, acrescentou que os descendentes dos
conquistadores se sentirão humilhados.
"Agora,
os indígenas estão vendo o céu caindo sobre a cabeça deles. O fato, porém, é
que o céu não está caindo apenas sobre a cabeça deles, mas sobre a cabeça de
todos nós. Vivemos uma crise planetária geral. Nós estamos acabando com as
formas de vida nesse mundo em um ritmo acelerado. Estamos transformando esse
mundo num lugar irrespirável."
E
acrescentou: "Vamos ver essa civilização que se acha muito boa ter de se
humilhar. E é possível que só sobrem os índios. Ao final, serão um exemplo de
como viver num planeta sem destruí-lo".
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