2015: ano de agitações
01/01/2015 03h00
Este ano será de
intensas lutas sociais no país. O projeto petista dá sinais cada vez mais
fortes de esgotamento, sintomas de fim de ciclo. A economia não ajuda. E as
escolhas de Dilma ajudam menos ainda a contemplar os setores populares.
Os dois últimos anos
reviraram ao avesso o pacto social construído pelo PT. As mobilizações da
juventude em junho de 2013 –com seus efeitos à direita e à esquerda– e as lutas
populares urbanas em 2014 anunciaram a retomada de um período de agitação
social. Junto a elas, o crescimento expressivo das greves nos últimos anos, com
um pico de 873 em 2012.
O pacto durou
enquanto foi cimentado pelo crescimento econômico. A ideia de que todos podem
ganhar, simbolizada por Lula, tinha base no crescimento econômico médio de 4%
ao ano entre 2003 e 2010. Embora fosse um pacto desigual, onde os empresários
ganharam muito mais que os trabalhadores, foi o que deu substância para a
política de conciliação de classes no último período.
Mas o maná acabou. O
crescimento médio anual nos quatro anos de Dilma foi de 1,5%, supondo-se a taxa
de 0,2% em 2014 prevista pelo Banco Central. Para 2015 a previsão do governo é
de 0,8%.
Neste cenário, não é
mais possível um pacto social. Baixo crescimento econômico significa quase
sempre instabilidade política e mobilização popular. Foi o que vimos renascer
nos últimos anos.
O orçamento encolheu
e a base de apoio também. Dilma ficou diante de uma encruzilhada. Ou enfrentava
a crise com um programa de reformas estruturais, buscando uma base de apoio
popular para enfrentar o Congresso e a banca, ou cedia à chantagem do mercado e
da direita e avançava num governo orientado por medidas impopulares. Passadas
as eleições, foi rápida em definir o caminho.
Indicou uma equipe
econômica neoliberal, com a missão de fazer cortes de gastos. Aumentou os juros
duas vezes em dois meses. Autorizou o reajuste do combustível e agora fala em
abrir o capital da Caixa Econômica Federal. Na política seguiu a mesma toada,
compondo o ministério com um show de horrores: Kassab, Kátia Abreu, pastor
George Hilton, Helder Barbalho.
Ante a crise,
política optou pelo aprofundamento de uma governabilidade conservadora. Ante a
crise econômica, apostou na saída neoliberal com a esperança de retomar o
investimento do setor privado na economia.
Essas escolhas
naturalmente terão um preço. O preço das políticas antipopulares: mobilizações
de rua, ocupações, greves. Assim será 2015.
Não estamos diante de
abstrações. Já se fala em corte de gastos de R$ 100 bilhões pela equipe
econômica. Isso significa evidentemente redução de investimentos sociais e
ataques a direitos trabalhistas e previdenciários. Alias, já começou, com o
anúncio de novas regras para o seguro-desemprego e pensões.
Kassab no Ministério
das Cidades representa o aprofundamento da política urbana voltada ao setor
imobiliário. Nada de Estatuto das Cidades. Nada de reforma urbana. A política
que na última década transformou as cidades brasileiras em barris de pólvora
prestes a explodir. Problemas como moradia, mobilidade e distribuição
territorial dos serviços públicos tendem a se agravar ainda mais.
Dilma tomará posse
hoje com esse passivo social. De frente para o Congresso e de costas para os
movimentos populares.
Seria estranho supor
que esse conjunto de medidas gere passividade social, principalmente depois do
que vivenciamos nos últimos dois anos.
São Paulo terá ainda
suas batalhas particulares. Haddad e Alckmin já anunciaram o aumento das
tarifas de transporte para os próximos dias, que será enfrentado pelas
primeiras mobilizações do ano. E se não chover acima da média até março, o
risco do colapso hídrico no Estado permanece alto. E com ele a revolta popular.
Por reformas
populares, direitos sociais, moradia, transporte público e água, lutas não
faltarão. 2015 promete!
Guilherme Boulos, 32, é formado em
filosofia pela USP, professor de psicanálise e membro da coordenação nacional
do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Também atua na Frente de
Resistência Urbana e é autor do livro "Por que Ocupamos: uma Introdução à
Luta dos Sem-Teto".
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