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Por um Plano B na Europa
Afirmar
que o euro e a União Europeia servem os europeus e protegem-nos contra a
crise é uma mentira perigosa. É uma ilusão acreditar que os interesses
da Europa podem ser protegidos no âmbito da prisão das regras da zona
euro e os atuais Tratados. Por Jean-Luc Mélenchon, Stefano Fassina, Zoe
Konstantopoulou, Oskar Lafontaine e Yanis Varoufakis.
13 de Setembro, 2015 - 02:06h
Stefano Fassina, Yanis Varoufakis, Jean-Luc Mélenchon e Oskar Lafontaine antes do debate no Festival da Humanidade.
A
13 de julho, o governo grego democraticamente eleito de Alexis Tsipras
foi posto de joelhos pela União Europeia. "O acordo" de 13 de julho é,
na verdade, um golpe de Estado. Foi obtido através do encerramento dos
bancos gregos pelo Banco Central Europeu (BCE) e a ameaça de não
permitir que estes voltassem a reabrir caso o governo grego não
aceitasse uma nova versão de um programa que falhou. Porquê? Porque a
Europa oficial não podia suportar a ideia de que um povo com o seu
programa de austeridade autodestrutivo tenha ousado eleger um governo
determinado a dizer "Não! ".
Agora,
com mais austeridade, mais privatizações de bens públicos a preço de
saldo, uma política económica mais irracional do que nunca, e
misantropia como política social, o novo memorando serve somente para
exacerbar a Grande Depressão grega e a pilhagem da Grécia por interesses
particulares, gregos ou não.
Devemos
aprender com este golpe de Estado financeiro. Este euro tornou-se o
instrumento de dominação económica e política da oligarquia europeia,
escondido atrás do Governo alemão e que se regozija por ver a Sra Merkel
fazer todo o "trabalho sujo" que os outros governos não são capazes de
fazer. Esta Europa só produz violência dentro e entre as nações: o
desemprego em massa, dumping social feroz, insultos atribuídos aos
líderes alemães contra a Europa do Sul e repetidas por todas as
"elites", incluindo as daqueles países. A União Europeia alimenta a
ascensão da extrema-direita e tornou-se um meio de anular o controlo
democrático sobre a produção e distribuição da riqueza em toda a Europa.
Afirmar
que o euro e a União Europeia servem os europeus e protegem-nos contra a
crise é uma mentira perigosa. É uma ilusão acreditar que os interesses
da Europa podem ser protegidos no âmbito da prisão das regras da zona
euro e os atuais tratados. O método Holland-Renzi do "bom aluno", na
realidade, do prisioneiro modelo, é uma forma de rendição que nem sequer
obterá clemência. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude
Juncker, disse-o claramente: "não podem existir escolhas democráticas
contra os tratados europeus". É a adaptação neoliberal de "soberania
limitada" inventada pelo líder soviético Leonid Brejnev em 1968. À
época, os soviéticos esmagaram a Primavera de Praga pelos tanques. Este
verão, a União Europeia esmagou a Primavera de Atenas pelos bancos.
Estamos
determinados a romper com esta Europa. É a condição para reconstruir
redes de cooperação entre os nossos povos e os nossos países sobre uma
nova base. Como conduzir uma política de redistribuição da riqueza e
criação de emprego, particularmente para os jovens, de transição
ecológica e de refundação democrática face a esta União Europeia? Temos
que escapar da inanidade e desumanidade dos tratados europeus e
refundá-los por forma a remover a camisa de força do neoliberalismo,
revogar o tratado orçamental, recusar o tratado de livre comércio com os
Estados Unidos (TTIP).
O
período é extraordinário. Enfrentamos uma emergência. Os
Estados-Membros devem ter o espaço político que permite às suas
democracias respirar e implementar as políticas adequadas a nível
nacional, sem medo de serem impedidos por um Eurogrupo autoritário
dominado pelos interesses dos mais fortes dos Estados-Membros e do mundo
dos negócios, ou por um BCE usado como um rolo compressor ameaçando
esmagar todos os "países não cooperantes", como foi o caso do Chipre ou
da Grécia.
Este
é o nosso Plano A: trabalhar em cada um dos nossos países, e juntos em
toda a Europa, por uma renegociação completa dos tratados europeus.
Estamos empenhados em colaborar com a luta dos europeus em todos os
lugares, numa campanha de desobediência às práticas europeias
arbitrárias e às regras irracionais até que a renegociação seja
bem-sucedida.
A
nossa primeira tarefa é acabar com a irresponsabilidade do Eurogrupo. A
segunda tarefa é acabar com a ilusão de que o Banco Central é
"independente" e "apolítico", quando este é altamente politizado (da
forma mais tóxica), totalmente dependente de banqueiros falidos e dos
seus agentes políticos e pronto para acabar com a democracia com um
simples toque de botão.
A
maioria dos governos, que representam a oligarquia europeia e
escondem-se atrás de Berlim e Frankfurt, também tem um plano A: não
ceder às exigências de democracia dos cidadãos europeus e usar a
repressão para acabar com a resistência. Vimo-lo na Grécia em julho. Por
que conseguiram estrangular o governo democraticamente eleito da
Grécia? Porque também tinham um plano B: empurrar a Grécia para fora da
zona euro nas piores condições possíveis, destruindo o seu sistema
bancário e acabando com a sua economia.
Confrontados
com esta chantagem, precisamos do nosso próprio Plano B para dissuadir
as forças mais reacionárias e anti-democráticas da Europa. Para reforçar
a nossa posição contra o seu compromisso brutal com políticas que
sacrificam a maioria a favor dos interesses de uma pequena minoria. Mas
também para reafirmar o princípio simples de que a Europa não é nada
mais do que os europeus e que as moedas são ferramentas de apoio à
prosperidade compartilhada, e não instrumentos de tortura ou armas para
assassinar a democracia. Se o euro não pode ser democratizado, se
continuam a usá-lo para estrangular o povo, vamos elevar-nos, vamos
olhar nos seus olhos e vamos dizer-lhes: "Experimentem, para ver! As
vossas ameaças não nos assustam. Vamos encontrar uma forma de assegurar
aos europeus um sistema monetário que trabalha com eles, e não à sua
custa ".
O
nosso plano A para uma Europa democrática, apoiado por um Plano B, que
mostra que aqueles que detêm o poder não podem aterrorizar-nos até à
submissão, visa apelar à maioria dos europeus. Isto requer um elevado
nível de preparação. Os elementos técnicos serão enriquecidos pelo
debate. Muitas ideias já estão na mesa: a introdução de sistemas de
pagamento alternativos, moedas alternativas, digitalização de transações
em euros para contornar a falta de liquidez, sistemas de intercâmbio
complementares em torno de uma comunidade, a saída do euro e a conversão
do euro em moeda comum.
Nenhuma
nação europeia pode avançar para a sua libertação isoladamente. A nossa
visão é internacionalista. Prevendo o que pode acontecer em Espanha, na
Irlanda, e porque não novamente na Grécia face à evolução da situação
política, e em França em 2017, temos de trabalhar juntos num plano B
tendo em conta as características de cada país.
Propomos,
portanto, a realização de uma cimeira internacional para um plano B na
Europa, aberta a cidadãos voluntários, organizações e intelectuais. Esta
conferência poderá ter lugar em novembro de 2015. Vamos lançar este
processo no sábado, dia 12 de setembro, no Festival da Humanidade.
Junte-se a nós!
Os signatários:
Jean-Luc Mélenchon, deputado europeu, co-fundador do Parti de Gauche (França)
Stefano Fassina, deputado, ex-Vice-Ministro da Economia e Finanças (Itália)
Zoe Konstantopoulou, presidente do Parlamento Grego (Grécia)
Oskar Lafontaine, ex-ministro das Finanças, co-fundador do Die Linke (Alemanha)
Yanis Varoufakis, deputado, ex-Ministro das Finanças (Grécia)
Tradução de Mariana Carneiro para esquerda.net
Video of Pour un sommet du plan B en Europe
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