"Para se ter uma ideia, a quantidade de arsênio encontrada na amostra foi de 2,6394 miligramas, sendo que o aceitável é de no máximo 0,01 miligrama", citou.
Ainda segundo o prefeito, são 100 quilômetros de material tóxico descendo pelo rio. "Encontramos praticamente a tabela periódica inteira dentro da água. Quero ver o que o presidente da Vale vai fazer para ajudar todo o povo", disparou.
Desde o rompimento das barragens da Samarco na cidade mineira de Mariana, no último dia 5, especialistas alertam para o impacto provocado pela chegada dos rejeitos ao Rio Doce.
Na parte capixaba do Rio Doce, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) tem coletado, desde segunda-feira, amostras chamadas "brancas", ou seja, em locais que não foram afetados pela onda de lama de rejeitos. A atividade está sendo realizada pelo próprio Instituto, que possui contrato com um laboratório de análises, e o objetivo é produzir contra-análises no futuro.
O material, de acordo com o Iema, foi coletado em Baixo Guandu, Colatina e Linhares, em um total de seis coletas realizadas pelo Iema e cinco pela Samarco. A empresa foi intimada pelo Instituto a realizar monitoramento tanto da água do Rio Doce quanto do mar, e a atividade está sendo acompanhada pela equipe de Fiscalização do Iema.
O recolhimento de amostras foi cessado na última quarta-feira, e as próximas coletas serão realizadas em locais já afetados pela lama após sua chegada ao Espírito Santo.
© Fornecido por Estadão
Esta semana, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Baixo Guandu enviou uma expedição a Minas Gerais para coletar amostras da água que está descendo com a segunda enxurrada, para que novas análises sejam feitas.
O prefeito de Baixo Guandu disse que os resultados das análise são extremamente preocupantes. Por conta disso, ele determinou que fosse feito na tarde desta quinta-feira, um bloqueio da estrada de ferro Vitória-Minas (que liga o Espírito Santo à Minas Gerais), para impedir o transporte de minério que passa pelo município.
"Precisamos de respostas urgentes sobre o problema que atinge toda a região. Não vamos permitir qualquer atividade de mineração. Se não houve mobilização na cidade, as consequências poderão ser ainda mais graves", afirmou.
Por meio de nota, a Samarco afirmou que desconhece o laudo técnico que aponta a presença de metais pesados na lama. "A empresa reforça que o rejeito é classificado como material inerte e não perigoso, conforme norma brasileira de código NBR 10004-04, o que significa que não apresenta riscos à saúde pública e ao meio ambiente. Proveniente do processo de beneficiamento do minério de ferro, o rejeito é composto basicamente de água, partículas de óxidos de ferro e sílica (quartzo)", diz a nota.
Leia mais.
O trágico episódio em Mariana (MG) está longe de ser a primeira grande crise a manchar a imagem da anglo-australiana BHP Billiton – a maior mineradora do mundo em valor de mercado em 2014 e uma das sócias da Samarco junto com a Vale –, mas pode se tornar o episódio mais fatal em um empreendimento da empresa até hoje.
De acordo com a BHP, o acidente com
maior número de mortes em projetos da empresa havia sido em 1979, quando uma
explosão de gás na mina de carvão Appin, na Austrália, matou 14 pessoas. Novas
explosões de gás em minas de carvão na cidade australiana de Moura mataram 12
pessoas em 1986, e outras 11 em 1994.
Cinco corpos já foram identificados e
ao menos 20 pessoas continuam desaparecidas. As perdas humanas no local poderão
ser as piores da história da empresa.
A BHP Billiton é dona de 50% da Samarco
ao lado da Vale, que detém a outra metade da mineradora. A gigante de
commodities, que teve lucro de $ 13,8 bilhões no ano passado, chegou ao Brasil
em 1984, quando adquiriu a Utah International Inc. e assumiu a participação que
tinha da Samarco com a Vale.
Em meio a questionamentos sobre as
causas do acidente e especulação sobre se houve negligência das empresas
responsáveis, o presidente-executivo da empresa, Andrew Mackenzie, e o diretor
de negócios de minério de ferro, Jimmy Wilson, vieram ao Brasil para avaliar a
extensão da tragédia.
Os executivos visitaram o complexo de
barragens e, nesta quarta-feira, falaram com a imprensa pela primeira vez em uma
coletiva na sede da Samarco, em Mariana, ao lado do presidente da Vale, Murilo
Ferreira.
Mackenzie anunciou a criação de um
fundo de emergência com a Vale para capitanear o esforço de reconstrução na
região e ajudar as famílias e comunidades afetadas. Ele disse que a empresa
está "100% comprometida" a prestar apoio no longo prazo.
“Lamentamos muito o que aconteceu”,
afirmou ele, contando que sobrevoou o local e que o cenário é de “partir o
coração”.
“Ouvi relatos de grandes demonstrações
de coragem, heroísmo e dedicação, e a coragem e resiliência das esforços de
resposta são muito inspiradores”, disse. “As pessoas de Mariana têm a minha
absoluta determinação de que vamos cumprir o nosso papel em ajudar a
reconstruir suas casas e comunidades.”
Na mesma coletiva, o prefeito de
Mariana, Duarte Júnior, calculou em R$ 100 milhões o prejuízo causado.
25 mil piscinas olímpicas de lama
Na quinta-feira passada, o rompimento
das barragens do Fundão e de Santarém liberou o equivalente a quase 25 mil
piscinas olímpicas de uma mistura de resíduos de minério de ferro, água e lama
na região, deixando um rastro de destruição e causando prejuízos que alcançam o
Espírito Santo.
Além da pressão para esclarecer as
causas do acidente, a Samarco – bem como a Vale a BHP – tem sido questionada
sobre a falta de um sistema de alarme sonoro para alertar moradores de Bento
Rodrigues sobre o mar de lama que se aproximava.
Há críticas também à falta de ação para
reduzir o impacto nos dias posteriores, alertando moradores de outras comunidades
atingidas – como Barra Longa, a 60 quilômetros de distância, alagada com a lama
no meio da noite após o acidente apesar de moradores terem sido assegurados de
que ali o leito do rio cheio de lama não iria subir.
Em Londres, apenas duas semanas antes do
desastre, a BHP fazia sua reunião geral anual, onde buscava reafirmar seus
compromissos com segurança e responsabilidade ambiental diante do atual cenário
de mudanças climáticas.
© Copyright British Broadcasting Corporation 2015
Como aconteceram em outras reuniões anuais, porém, os executivos da empresa
foram recebidos na entrada por protestos de grupos de operários que viajaram da
Colômbia até a capital inglesa para pressionar contra o avanço de projetos da
empresa sobre suas comunidades, ao lado de ativistas que criticavam os impactos
negativos da mineração.
Richard Solly, um dos fundadores da
London Mining Network (Rede Londrina de Mineração), estava lá ao lado de outros
grupos para pressionar a empresa.
Sua organização monitora o impacto de
projetos de mineração no mundo todo e se articula com outros grupos para buscar
reduzir seus efeitos negativos sobre comunidades e sobre o meio ambiente.
Leia mais: Mesmo sem ser tóxica, lama
de barragem em Mariana deve prejudicar ecossistema por anos
"A BHP gosta de se apresentar como
a mais responsável e mais limpa do mundo, mas temos muitos exemplos dos danos
que sua atividade causa e do despejo extremamente danoso de resíduos no meio
ambiente", afirma Solly.
"A empresa tem uma estratégia de
comunicação muito boa, e aqui (no Reino Unido) costuma impressionar seus
acionistas com suas apresentações. Ela não finge que suas atividades não têm
impacto negativo e fala de uma maneira mais transparente sobre as coisas que
está fazendo para mitigar esses impactos, então isso costuma contribuir para
uma imagem positiva. Isso claramente vai ficar mais difícil após o acidente no
Brasil", opina.
Após a tragédia, as ações da BHP
chegaram a seu nível mais baixo em sete anos na bolsa australiana na segunda-feira.
As da Vale fecharam a sexta-feira com queda superior a 7% e caíram mais 5,6% na
segunda-feira, e agora já começam a se recuperar.
'Desresponsabilização'
Na segunda-feira, a Secretaria estadual
de Meio Ambiente de Minas Gerais suspendeu a licença da Samarco para exercer
qualquer atividade no município de Mariana, afora ações emergenciais de
resposta à tragédia.
No Brasil, a BHP detém direitos de
exploração de blocos de petróleo na bacia Foz do Amazonas; atua no setor de
alumínio, com participação de 14,8% na mineradora de bauxita Mineração Rio do
Norte (MRN), no Pará; e, no Maranhão, tem participações no Consórcio de
Alumínio do Maranhão (Alumar).
Professor da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, o sociólogo Rodrigo Santos coordena o grupo de pesquisa
Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade, que monitora impactos
negativos de projetos de mineração no país. Ele afirma que, no Brasil, a BHP
ainda é pouco conhecida porque explora pouco a divulgação de sua imagem.
Santos diz que a Vale tem
inquestionável preponderância no Brasil e uma posição de destaque da BHP a
deixaria mais suscetível a riscos institucionais e econômicos no país. Assim,
diz, sua estratégia tem sido de se apoiar em posições acionárias minoritárias e
na"desresponsabilização" operacional.
"É possível compreender a tática
de parceria com a mineradora brasileira (Vale) como uma estratégia de
visibilidade reduzida", diz Santos.
"Isso deve permanecer central nas
ações da BHP junto ao Estado e à opinião pública brasileira após o desastre.
Mas é provável que mobilizações da sociedade civil e da imprensa questionem
quaisquer pretensões da empresa de se eximir de responsabilidade e de manter
uma baixa visibilidade no evento."
© Copyright British Broadcasting Corporation 2015
Santos diz que a imagem da BHP vem sendo questionada "há bastante
tempo" em outras partes do mundo por redes de ONGs, movimentos sociais e
populações afetadas pela mineração, a exemplo do que ocorre no Brasil com
movimentos que defendem comunidades e territórios de áreas de mineração.
Um deles, o Movimento dos Atingidos
pela Vale, protagonizou um protesto na sede da empresa, no Centro do Rio de
Janeiro, na terça-feira. Um grupo de ativistas e artistas com os corpos
cobertos de "lama" se postaram na entrada do prédio na avenida Graça
Aranha para denunciar o que consideram responsabilidade da empresa no
rompimento das barragens.
Outras polêmicas
O desastre em Mariana se soma a outros
projetos pela qual a BHP está tendo sua atuação contestada. Na Austrália, seu
país de origem, há polêmica em torno do centro minerador Olympic Dam, uma
jazida com reservas de cobre, ouro, prata e, segundo Santos, o maior depósito
mundial de urânio por área de extensão.
O projeto foi assumido pela BHP em
2005, mas tem sido questionado pela produção de rejeitos radioativos e pelo
altíssimo consumo de água.
Outras polêmicas incluem as minas de
cobre de Escondida, no Chile, onde ONGs denunciam vazamentos de resíduos de
cobre, e os planos de implantar um megaprojeto de extração de carvão em
florestas na Indonésia, o IndoMet.
Mas o projeto com consequências
ambientais e sociais mais graves na história da BHP é o da mina OK Tedi, em
Papua Nova Guiné. Em 1999, a empresa admitiu ter liberado, ao longo de mais de
uma década, milhões de toneladas de rejeitos da exploração de cobre nas bacias
hidrográficas dos rios OK Tedi e Fly. O impacto comprometeu 120 comunidades
camponesas e de pescadores artesanais na região, afetando até 50 mil pessoas.
Na época, o presidente-executivo da
empresa Paul Anderson admitiu que, diante das conclusões de um estudo feito por
uma comissão científica sobre os danos no local, “a mina não é compatível com
nossos valores ambientais e a companhia nunca deveria ter se envolvido”.
Em 2002 a companhia se retirou
inteiramente do projeto, transferindo sua posição acionária (52% da mina) para
um fundo de desenvolvimento do governo, que deveria reverter em benefícios para
a população do país.
Porém, segundo pesquisadores, apenas
uma pequena porção dos recursos beneficiou as pessoas impactadas pela poluição
do rio e pelo desmatamento na área.
À BBC Brasil, a BHP Billiton afirma que
sua “prioridade imediata” é o bem-estar dos funcionários da Samarco e das
comunidades locais, bem como o de prestar apoio à Samarco em seus esforços de
resposta à tragédia.
Link: http://www.msn.com/pt-br/noticias/meio-ambiente/mariana-pode-virar-desastre-mais-fatal-da-gigante-bhp-que-enfrenta-outras-pol%c3%aamicas-internacionais/ar-CCfZbJ?ocid=spartandhp
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